Nada é simples quando se trata de palavras.
Quando se trata de palavras até a palavra simples é complicada.
um blog de Luís Ene
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
estado 1 literatura 2
Para todos os que ali estiveram ontem, mas em especial para o Rogério Cão, que fiquei a conhecer um pouco melhor, fica este esboço de poema.
Pessoas assim
há pessoas assim
intensas
verdadeiras
com raízes fundas
como asas
que se dizem
no silêncio
abafado
das palavras
há pessoas assim
é verdade
mas não
são muitas
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Quem era este escritor?
A sua escrita foi elogiada por Ernest Hemingway, Graham Greene, Evelyn Waugh, Jorge Luis Borges, Gabriel Garcia Marquez, Karel Capek, Marshall McLuhan, Paul Claudel, Dorothy L. Sayers, Agatha Christie, Sigrid Undset, Ronald Knox, Kingsley Amis, W.H. Auden, Anthony Burgess, E.F. Schumacher, Neil Gaiman, e Orson Welles. Para só dizer alguns.
Pode encontrá-lo aqui e aqui (em inglês).
UM HOMEM ESCREVE
Um homem escreve.
Está fechado no seu gabinete. Na verdade está encerrado na sua sala, porque as palavras quase nunca nos dizem o que dizem. A sala é pequena, pouco mais de quatro por três metros, com uma porta e uma janela, em cada um dos dois lados mais pequenos do rectângulo. Está ali das nove às dezoito horas, todos os dias, com excepção dos fins-de-semana e dos feriados, com uma hora para o almoço. Cumpre sempre o horário com uma rigidez cadavérica, tão cadavérica quanto o seu rosto cansado.
Um homem escreve.
Está em frente a um mar de Inverno e ri. Não está ninguém na praia a não ser ele. Senta-se na areia e perde-se na contemplação do mar. Umas vezes tão revolto e outras tão calmo e no entanto sempre o mesmo mar. Da mochila tira uma garrafa de vinho tinto meio cheia, bebe um gole longo e deita a rolha fora. O seu cabelo está revolto como o mar, mas os seus olhos estão cheios de luz. Hoje está ali, amanhã estará onde lhe apetecer ou onde tiver que estar, o que para ele é afinal a mesma coisa.
Um homem escreve.
Escreve e escreve e é sempre o mesmo homem que escreve, é sempre o mesmo homem que se escreve.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
noite de poesia..
aula de poesia
Era um comum fim de tarde
(ainda não era noite
e já não era dia)
quando
(de repente)
me surpreendi:
o empregado negro
(chama-se Marcus)
completamente
vestido de negro
(ainda que o polo fosse
riscado de cinzento
muito escuro)
passou à minha frente
levando uma bandeja
com três imperiais
iluminadas
iluminadas.
E então
(ou será agora)
sou surpreendido
por esta pergunta:
Então isto é que é
a poesia?
domingo, 26 de setembro de 2010
algarve artist network
Exercício?
.
.
O Stan percorreu 29,3 quilómetros da sua casa em Toronto até à casa de um amigo residente num prédio em Mississauga. Antes de sair do carro, Stan coloca uma máscara cirúrgica, luvas de cabedal e óculos escuros.
O Stan usa a máscara porque está preocupado com a pneumonia atípica, uma doença com uma taxa de fatalidade global entre os sete e os quinze porcento – as estimativas variam. Também está preocupado com a febre hemorrágica da Ébola, que tem uma taxa de fatalidade global de cerca de noventa porcento. Dois pacientes, quase recuperados da pneumonia atípica, encontram-se a 47,2 quilómetros do Stan, no Hospital Geral de Toronto. Os pacientes com Ébola mais próximos encontram-se em África, a 12.580 quilómetros de distância.
O Stan não está preocupado com a Sr.ª Imelda Foster, que limpa um apartamento no último andar do prédio. Se o Stan conhecesse a Sr.ª Foster, daria valor ao seu entusiasmo pela lixívia como desinfectante. Os olhos da Sr.ª Foster já não são o que eram, mas ela compensa os problemas de vista esfregando a mesma superfície repetidamente.
O Stan usa luvas porque o preocupam as mordeduras das aranhas. A única aranha venenosa do Ontário é a viúva-negra do norte, a Latrodectus variolus, que produz um veneno quinze vezes mais tóxico que o de uma cascavel. Embora a aranha injecte muito menos veneno do que uma cobra quando morde, quase um porcento dos ataques da L. variolus são fatais. As fatalidades concentram-se nos muito novos ou muito doentes. O Stan tem trinta e sete anos e está em excelente forma física. Ainda assim, evita meter as suas mãos em sítios onde não pode ver e, pelo sim pelo não, usa luvas.
O Stan não está preocupado com Tanya Scott, a menina de quatro anos que vive no apartamento do último andar, onde a Sr.ª Imelda Foster faz as suas limpezas. Se Stan soubesse da existência da pequena Tanya, daria valor à diligência com que a Sr.ª Foster aspira toda a casa, até a varanda. Não há uma única teia de aranha no apartamento.
O Stan usa óculos escuros. Estima-se que o Sol continue a brilhar por mais cinco mil milhões de anos, ao fim dos quais a sua luminosidade aumentará para o dobro, o que preocupa Stan.
O Stan não está preocupado com o cisne de vidro, pesando 457 gramas, que Tanya Scott tirou ontem do seu lugar na mesinha da sala, deixou no parapeito da varanda para ver cintilar ao sol, e do qual se acabou por esquecer. Quando aparece para limpar a varanda, a Sr.ª Foster não repara no cisne e derruba-o do parapeito com o tubo do aspirador.
No instante em que o cisne inicia a sua descida, Stan encontra-se a 38 metros do ponto directamente por baixo da figurinha de vidro, e avança em linha recta nessa direcção, a uma velocidade constante de 3,2 quilómetros por hora. O objecto em queda acelera a um ritmo de aproximadamente 10 metros por segundo. O parapeito ergue-se 112 metros acima do passeio.
PERGUNTA: Será que o Stan se preocupa com o que deve?
Bruce Holland Rogers,
[Em Quatro contos Inéditos que pode ler ou descarregar aqui. Muito curiosa e inteligente esta atitude publicitária dos Livros de Areia]
sábado, 25 de setembro de 2010
José Amaro Dionísio - Serial Killer
SERIAL KILLER
Ela tinha razão, não existe nada para proteger. Disse-o numa frase curta e profissional, e ele sentiu-se ridículo. Quisera introduzir nessa hipnose um pouco de mistério, pôs-se a falar em atmosferas dashiellianas, virá a escrever fspstueiesa quando deveria simplesmente ter perguntado: faria sentido para si termos um encontro inexistente e sem agenda? Visto da janela o nevoeiro curva as árvores, uma criança desenha no passeio a sua ilha, imperceptível na coalha o focinho de um cão. Há instantes assim: o que resta de céu e terra deixa escapar um pouco de luz e a gente semicerra os olhos e a bruma levanta um ecrã gigante. O vinho atravessa então o copo e desfaz a distância, baralho de sombras com a memória escondida em parte incerta da última carta. Mas as coisas realmente importantes não têm nome, inventam o seu vocabulário. Nascem dentro de nós e morrem connosco. Absolvidos na noite cada qual cai então por si e sempre só. Ele próprio teve um nome, mas perdeu-o. É verdade que estava lá, no declínio da perda, havia contudo demasiado brilho à sua volta e só se lembra de ter ficado cego com a ponta do cigarro. Depois veio a rua e veio vazia. Disseram-lhe anos mais tarde que esse tinha sido um instante muito próximo da sua morte, mas isso só lhe disseram porque nessa altura perder a face já não tinha importância para eles. Desde então começou a procurar a blasfémia nos espelhos, e livre o vidro vinha partir-se-lhe nas veias da mão. Hoje só poderá pronunciar um nome que se devore a si mesmo, um nome inexistente, sem rasto, um nome que teça um encontro ele próprio inexistente, feito de nada. Foi isso que pensou quando escreveu fspstueiesa, refugiou-se em boicotes, partes gagas, claro que um encontro desses além de inexistente só poderia ter lugar num não lugar, este quarto surdo aos pés da China, um dia zombie, a igreja de lama, o bar entre pálpebras caído, sentado ao centro, e ela respondeu-lhe, e respondeu bem, deixa-te de códigos secretos não há aqui nada para proteger. Ele devaneia e não pára, pede depois uma vez mais o chão à terra, fodeste-me com a brutalidade dum cavalo a fugir da sua sombra, dirá ela de manhã, um som de voz muito lento, os olhos no rio das Pérolas, e ele sente a elegia da escuridão sem endereço, esse canto onde se pode começar a matar.
José Amaro Dionísio
as pessoas
para a Paula
Era um artista enorme, extraordinário, e era um homem pequeno, mesquinho, execrável. As pessoas admiravam-se. As pessoas não compreendiam. As pessoas têm esta incompreensível crença que lhes diz que é preciso compreender.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
LEITURAS PERNICIOSAS
José Amaro Dionísio
Pesquiso e pouco mais encontro sobre o autor (nascido em Faro em 1947) para além da referida entrevista e dois poemas. No entanto fico interessado e intrigado.
Quem é que acrescenta mais?
quod erad demonstratum
Algumas discussões sobre literatura (e não só) que ainda persistem devem-se sobretudo (estou convencido que assim é) ao pouco que se conhece e ao pouco que se lê. Relativamente a certas discussões lembro-me sempre de um filme do Woody Allen em que o personagem tira um autor da cartola (por assim dizer) para pôr fim a uma discussão. Não podendo fazer isso pode-se sempre ir buscar um exemplo, em vez de apresentar outos argumentos. Quando na Minguante diziamos que a micronarrativa podia ser em verso algumas pessoas questionaram, assim como algumas pessoas questionam que contar uma história possa ser poético (que uma simples história possa ser um poema). Pois bem, um exemplo, entre muitos, de um poeta com autoridade, um prémio Camões, se é que um poeta pode pode ser autoridade, se é que um poeta precisa de prémios para se afirmar.
--->
Meu pai
meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem
quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro
Ferreira Gullar
--->
saiba mais sobre Ferreira Gullar aqui. aconselho os e-poemas
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
o regresso
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
uma sugestão
A propósito do que diz o Diogo e ontem em conversa o Valter também me referia – sobre repensar o modelo das sessões de poesia no Draculea – gostava de dar a minha opinião e deixar uma sugestão.
As sessões actuais estão muito bem – leitura aberta de material próprio – e não me parece que devam ser alteradas, a não ser em alguns eventuais pormenores.
O que acho é que há necessidade de diversificação. Pormenorizando: podiam também existir sessões abertas mas não dirigidas a umpúblico, em que os autores pudessem discutir o que andam a fazer e trocar opiniões; assim como sessões de poetry slam – desafios de leitura - e ainda apresentação de autores e obras. 4 possibilidades / 4 modelos que dariam para preencher com variedade as diversas terças-feiras, talvez em horário menos tardio (a partir da 22:00).
E porque não um clube de leitura?
[Só não sei, e desculpem-me a expressão, é se haverá cu para tanta literatura.]
Um abraço.
sonho-te
Recomendo vivamente
o que faltam é espaços e mais aposta na literatura e na poesia
terça-feira, 21 de setembro de 2010
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Graças a Deus
domingo, 19 de setembro de 2010
Pequena história do homem que não tinha história alguma
Até aos trinta anos viveu na casa onde nascera, muito depois de todos se terem ido embora. Um dia, nunca soube bem porquê, foi para além da cancela que se abria no muro que delimitava a propriedade e continuou em frente, sem nunca olhar para trás. Desde então nunca mais parou em lugar algum o tempo suficiente para que se lembrassem dele, e os que antes o tinham conhecido já há muito o haviam esquecido ou estavam mortos. Por isso escrevi esta pequena história, para que ele tenha uma história que possa ser contada muito para além da sua morte.
o estado da investigação
Convém recordar que as perguntas que norteiam a investigação em curso sobre o estado da literatura (em Faro) são as seguintes:
Que escritores residem em Faro?
Que grupos de escritores ou de escrita ou de leitura existem em Faro?
Em que locais em Faro se reúnem os escritores?
Que editores e que edições literárias têm sede em Faro?
Que apoios existem em Faro para a literatura?
Quem divulga/apoia em Faro os escritores que aqui residem?
Neste ponto da investigação as três primeira perguntas já receberam respostas que permitem chegar a algumas conclusões, o que não se passa com as restantes três.
Na verdade, parece que se pode afirmar com alguma segurança que existem em Faro cada vez mais pessoas a escrever mas existem poucas pessoas que se interessam (as pessoas estão desligadas), o que faz com que não exista uma verdadeira cena literária, aparecendo o Draculea Café Bar como o único lugar onde existe um actividade literária continuada (22 edições do Draculea Café Poesia), ainda que temporariamente interrompida.
Sem prejuízo de a investigação continuar a incidir sobre todas as perguntas, irei agora dar mais atenção às três últimas.
Quem quiser pode ainda responder a essas perguntas à laia de questionário (como tem acontecido) e/ou dar sugestões/indicaçõe sobre qualquer um dos pontos.
Além do mais, aguardo o retomar do Draculea Café Poesia numa destas terças, onde conto participar, e vou tentar estar nas primeira Leituras Perniciosas.
sábado, 18 de setembro de 2010
ainda o lit.algarve em Tavira
Domingo19 de Setembro de 2010, 17h30
Sunday 19 September 2010, 17h30
Casa das Artes de TaviraLeituras pelo autores
Readings by the authors
Iris Galley; Janice Russell; Lisa Selvidge; Jill Fraser
ser publicado
Um amigo meu escreveu um livro, o seu primeiro livro. Antes tinha escrito apenas pequenos textos, alguns deles publicados numa revista. Se recordo correctamente, sempre gostou de escrever, mas nunca sonhou ser escritor. Mesmo agora, com um livro escrito, diz-se apenas uma pessoa que escreveu um livro. Diga-se de passagem que o seu coração pertence a outra arte e que é por isso que ele não se diz um escritor. É só por isso e não por o seu livro não se encontrar (ainda) publicado. Mostrou-o a duas ou três pessoas e diz ter vontade de o partilhar com outros, mas não se quer aborrecer (envolver) muito. Como é uma pessoa metódica pesquisou o mercado editorial e pensa enviar o livro a uma editora (a ver o que dá). Sou uma das pessoas que leu o livro e, na minha opinião, o livro tem qualidade e poderá ter leitores. Encontramo-nos ontem e (eu já disse que ele era uma pessoa metódica) colocou-me, sobre o assunto da publicação do livro, duas perguntas.
Não me recordo com exactidão da primeira pergunta, mas recordo-me mesmo assim do que lhe disse. Falei-lhe da minha experiência como autor publicado, como blogger, como aprendiz de editor e de promotor da escrita e da leitura; disse-lhe que a maior parte das editoras não aposta verdadeiramente nos seus autores nem nos seus produtos, ainda que haja algumas, poucas, que o fazem; falei-lhe do custo de edição e do pouco que sei do negócio dos livros. Perguntei-lhe da sua necessidade de publicar; falei-lhe de como existiam neste momento em Faro vários autores – ele incluído – que podiam (deveriam) aqui ser editados, o que pouco custaria aos que por estas bandas tem a obrigação de apoiar a cultura. E mais. E mais. E mais.
E então ele fez-me a segunda pergunta.
E ganha-se dinheiro?
Esta pergunta era muito mais fácil de responder e até lhe podia ter dito apenas que não, que nem por isso, mas expliquei-lhe o quanto normalmente um autor ganha, o que em muitos casos é zero, nicles, népia. Ou isso ou ganha-se uma enorme dor de cabeça e uma enorme aversão ao “sistema”.
hoje vou estar por aqui
Guia Algarve Shopping-Fórum FNAC - 15 horas
Concurso de dramatização de poemas
Inscrição: alfacult@gmail.com
Poetry Slam
Registration: alfacult@gmail.com
Lagoa- Fatacil - 10/22 horas
Maratona de leitura & Mais
Encontro com mais de 40 autores
Participação espontânea do público de todas as
idades. Música, cenas de teatro.
Actividades recreativas.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Egito Gonçalves
ALDEBARAN
Toda a tarde colhi amoras num poema de Ginsberg,
mastigando-as com alguns pensamentos desordenados
que em ti se detinham - como numa paragem de autocarro.
Depois fizemos café numa velha cafeteira
arruinada
que Allen encontrara ao limpar as ervas
da sua nova casa de campo
em Berkeley. Enquanto bebíamos
expliquei-lhe as razões que tornavam o teu nome
impronunciável
e o escondiam numa estrela. Falei-lhe disso
e da tua indesmentível energia pélvica.
Sentiamo-nos ambos muito sós
a cortar em fatias sanduiches de realidade.
[encontrado aqui]
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Lugares
ele não pertencia àquele lugar
ele não pertencia de todo àquele lugar
era óbvio
evidente
esmagador
mas
no entanto
ele permanecia naquele lugar
ele ia permanecendo naquele lugar
é verdade antiga:
o paraíso e o inferno
são apenas lugares
lugares ao nosso alcance
lugares à nossa escolha
ANDAR & CAIR
Eu desejava-te. E andava à tua procura.
Mas não conseguia encontrar-te.
Eu desejava-te. E andava à tua procura todo o dia.
Mas não conseguia encontrar-te. Não conseguia encontrar-te.
Vais a andar. E nem sempre dás por isso,
Mas estás sempre a cair.
A cada passo cais um pouco para a frente .
E então impedes-te de cair.
uma e outra vez estás a cair.
e então impedes-te de cair.
E é desse modo que consegues andar e cair ao mesmo tempo.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
incontinência cultural
LEITURAS PERNICIOSAS
A 1ª sessão é no dia 24, às 22 horas, com Joaquim Morgado (poesia) e Strak (contrabaixo).
último aviso
DESTAQUES :)
dia 17 de Setembro, 11:30 h, Biblioteca Municipal de Tavira
Peter Cunnigham
Éilís Ní Dhuibhne
dia 18, 15:00 h Fórum FNAC - Guia Algarve Shopping
Concurso de dramatização de poemas
Inscrição: alfacult@gmail.com
Poetry Slam
Registration: alfacult@gmail.com
Vou estar presente nos dois eventos, como moderador, e conto com vocês. Devo ter 2 ou 3 lugares no carro, se alguém quiser boleia :)
Moto continuo
doia-lhe sempre todavia nalguns momentos doia-lhe menos
amava sempre todavia nalguns momentos amava menos
amava muito todavia nalguns momentos amava menos
amava muito mas nalguns momentos amava menos
amava muito mas às vezes amava menos
amava muito mas às vezes amava demais
doia-lhe muito mas às vezes doia-lhe demais
uma casa em Beirute
FOTOPOEMA SOBRE O TEMPO
sou feliz mas não sou feliz. a
realidade é transitiva, cobarde;
ser feliz é respeitar
as proporções entre mim
e a imagem que me emoldura;
proporções de tempo, espaço,
som e densidades várias.
e um sorriso maior que o perímetro da
imagem que agora vês
sempre se tornará invisível,
despredominante, desamanhecedor do
destino que se presume independente
da infantilização de todo o tempo.
"as pessoas felizes
não tiram fotos ao passado", dizes tu,
do lado externo da neblina escura do papel,
como se eu não pudesse ouvir
ou contaminar de negação.
Sylvia Beirute
inédito
terça-feira, 14 de setembro de 2010
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
não representar a palavra
“Tome a palavra borboleta. Para usar essa palavra não é necessário fazer a voz pesar menos do que uma onça ou equipá-la com pequenas asas empoeiradas. Não é necessário inventar um dia ensolarado ou um campo de narcisos. Não é necessário estar amando, ou estar apaixonado por borboletas. A palavra borboleta não é uma borboleta real. Há a palavra e a borboleta. Se você confunde esses dois itens as pessoas têm o direito de rir de você. Não faça muito da palavra. Você está tentando sugerir que você ama borboletas mais perfeitamente que qualquer outro, ou realmente entende sua natureza? A palavra borboleta é apenas dado. Não é uma oportunidade pra você pairar, planar, fazer amizade com flores, simbolizar beleza e fragilidade, ou de qualquer forma personificar uma borboleta. Não represente palavras. Nunca represente palavras. Nunca tente sair do solo quando você fala sobre voar. Nunca feche seus olhos e puxe rapidamente sua cabeça para um lado quando você fala de morte. Não fixe seus olhos flamejantes em mim quando você fala de amor. Se você quer me impressionar quando você fala de amor ponha sua mão no bolso ou embaixo de seu vestido e brinque com você mesma. Se a ambição e a fome por aplausos tem te guiado a falar sobre amor você deveria aprender como fazer isso sem desonrar você mesma ou o material.
Qual é a expressão que a nossa era demanda? A era não demanda expressão de qualquer forma. Nós temos visto fotografias de mães asiáticas de luto. Nós não estamos interessados na agonia de seus órgãos descuidados. Não há nada que você possa mostrar em sua face que possa se comparar ao o horror deste tempo. Nem mesmo tente. Você vai apenas se conservar no desprezo daqueles que sentem as coisas profundamente. Nós temos visto reportagens de humanos em extremos de dor e deslocamento. Todo mundo sabe que você está comendo bem e está mesmo sendo pago para ficar aí de pé. Você está brincando com pessoas que experimentaram uma catástrofe. Isso deveria te deixar muito quieto.
Fale as palavras, expresse os dados, um passo pro lado. Todo mundo sabe que você está sofrendo. Você não pode contar à audiência tudo que você sabe sobre amor em cada linha de sua fala. Dê um passo pro lado e eles saberão o que você sabe porque eles já sabem mesmo. Você não tem nada a ensiná-los. Você não é mais bonito do que eles são. Você não é mais sábio. Não grite com eles. Não force uma entrada a seco. Isso é sexo ruim. Se você mostrar as linhas de sua genital, então entregue o que prometeu.
E lembre-se que a maioria das pessoas não querem realmente um acróbata na cama. Qual é a nossa necessidade? Estar perto do homem natural, estar perto da mulher natural. Não finja que você é um cantor adorado com uma vasta e leal audiência que seguiu os altos e baixos de sua vida até este último momento. As bombas, os lança-chamas, e toda aquela merda que destruíu mais do que árvores e vilas. Eles também destruíram o palco. Você pensou que sua profissão escaparia à destruição geral? Não há mais palco. Não há mais luzes da ribalta. Você está entre as pessoas. Então seja modesto. Fale as palavras, expresse os dados, passo pro lado. Fique sozinho. Fique no seu quarto. Não se coloque.
Esta é uma paisagem interior. É dentro. É privado. Respeite a privacidade do material. Estes pedaços foram escritos em silêncio. A coragem do jogo é falá-los. A disciplina do jogo é não violá-los. Deixe a audiência sentir seu amor pela privacidade mesmo que não haja privacidade. Seja uma boa puta. O poema não é um slogan. Não pode fazer propaganda de você. Não pode promover sua reputação de sensibilidade. Você não é um garanhão. Você não é um matador. Todo esse lixo sobre gangsters do amor. Você é um estudante da disciplina. Não represente as palavras. As palavras morrem quando você as representa, elas murcham, e somos deixados sem nada a não ser com sua ambição.
Fale as palavras com a exata precisão com a qual você checaria uma lista da lavanderia. Não se torne emotivo sobre a renda da blusa. Não fique de pau duro quando você diz calcinhas. Não fique cheio de calafrios por causa da toalha. Os lençóis não deveriam provocar uma expressão sonhadora sobre os olhos. Não há necessidade de chorar no lenço. As meias estão lá não para te lembrar de estranhas e distantes viagens. É apenas a tua lavanderia. São apenas suas roupas. Não fique espiando através delas. Apenas as use.
O poema não é nada mais do que informação. É a Constituição de um país interno. Se você o declama e o explode com suas nobres intenções então você não é melhor que os políticos que você despreza. Você é apenas alguém balançando uma bandeira e fazendo o apelo mais barato para um certo tipo de patriotismo emocional. Pense nas palavras como ciência, não como arte. Elas são um relatório. Você está falando diante de um encontro do Clube de Exploradores da National Geographic Society. Essas pessoas conhecem todos os riscos de se escalar montanhas. Eles te honram por tomar isso por certo. Se você enrubescer suas faces fazendo o contrário será um insulto à hospitalidade deles. Fale pra eles da altura da montanha, sobre o equipamento que você usou, seja específico sobre as superfícies e o tempo que tomou para escalá-la.. Não trabalhe com a audiência buscando arquejos e suspiros. Se você está buscando arquejos e suspiros não será de sua apreciação do evento mas da deles. Serão as estatísticas e não a voz trêmula ou o cortar do ar com suas mãos. Estará nos dados e na quieta organização de sua presença.
Evite o floreio. Não tenha medo de ser fraco. Não fique com medo de ficar cansado. Você fica bem quando está cansado. Você parece como se pudesse ir adiante pra sempre. Agora vem pros meus braços. Você é a imagem da minha beleza.”
do livro “Death of a Lady’s Man” de Leonard Cohen.
domingo, 12 de setembro de 2010
Retrato em tons de azul
Quando acordou o mundo ainda estava ali:
um velho filme mudo que todos os dias se
esforçava por legendar: doia-lhe um pouco
a cabeça e os olhos ardiam-lhe ligeiramente:
deixou que John Mclaughlin lhe emprestasse
um sentido e sentou-se a escrever: uma frase
duas frases três frases: escrevia e rasurava: es
crevia de novo e de novo rasurava: sorria mas
os olhos estavam tristes: entre as palavras e o
mundo uma irremediavel dessincronia.
O Terceiro Homem
O Terceiro Homem foi uma criação de três ingleses: Carol Reed, o romancista Graham Greene e o produtor Alexander Korda.
sábado, 11 de setembro de 2010
Blue collar
Aquele que vai partir um dia partirá:
tudo o que existe um dia desaparecerá:
não importa o que sentes: é a ordem na
tural das coisas que assim o determina:
mas tu sabes: não são só os corpos que
se amam: os corações batem sempre a des
compasso: as almas fundem-se sem apelo
no azul: não desesperes: não tens de
aceitar a realidade: faz da tua dor a
tua liberdade: tu és o lado de dentro e
o lado de fora: o poema [tal como a vida]
escreve-se ao mesmo tempo que é escrito:
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
o lambe-cuzismo nacional
1- os grandes grupos de escritores/artistas fazem-se (faziam-se) de afinidades que resultavam em grandes amizades. Relembro o ainda vivo exemplo português: Júlio Pomar, Lobo Antunes, Cardoso Pires, Fernando Lopes, entre outros. Será isso possível?
2- Qual o estimulo de um escritor para viver em Faro? O que é que a cidade de Faro tem que seja apelativo? E atenção porque, quanto a mim, Faro tem muito potencial (à semelhança de Guimarães que se transformou numa cidade muito bonita e restaurada).
3- Quanto às editoras, também eu me tenho perguntado sobre isso. E não venham com a conversa dos apoios: dou alguns exemplos, um de respeito, outros mais recentes: Antígona, Ahab, Livros de Areia: editoras de relevo e independentes.
É preciso, sim, proteger as pequenas editoras.
4- o melhor apoio para a literatura é a leitura e divulgação, a prática da tertúlia, a conversa despretensiosa e sem lambe-cuzismos. Coisa que muito se vê por aí, incluindo neste site e em Faro com alguns dos literários que por aí andam.
Aníbal Teixeira
[publicado em aqui, num dos blogs onde eu tinha deixado um inquérito]
O estado da literatura
enfio a cabeça
num buraco
e esqueço
enfio a cabeça
num buraco
e partilho
enfio a cabeça
num buraco
e pertenço
o estado da literatura
é sempre de crise
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Vão-se queixando que eu já fui!
Isto vem a propósito do que já aqui se publicou e comentou, e em especial de um último comentário em entrada de já há alguns dias e que a seguir destaco. Obrigado a todos. Obrigado Rubi.
Diz o Rubi:
Enfim. Li. Liguei-me. Sou pessoa. Queremos quantidade para sentir forte a nossa vontade. Já nem sei o que vale a pena ser dito. Sei que é preciso comer, beber, vestir, ter computador com net, tecto e cama. Sei que é preciso ir para a rua. Sei também que só fabricando um mosteiro aberto à educação, à recriação e à investigação sob o lema de pobreza, caridade e alegria se conseguirá porventura fazer algo consistente em Faro. A cena artística existe nesta cidade e vê-se nas gerações mais velhas o quão desprezada é, formando corpos transeuntes ou corpos abutrivos. Esta cidade é um poço de ecos a tentarem escapar da espiral de vento enrolado. Impregnados por uma viscosa densa. Sufocados de tanta incompetência labiríntica sem rosto, sem sensibilidade, sem visão de um povo. Tacanho modo de vida. Escrevam carros e praias sujas na moda de salpicos presunçosos sem lonjura de pensamento.
Quem, do que tem sido sempre feito em faro, sabe dar seguimento físico? Aqui só se fala... não se apoia! Não se abre a porta e arrisca! Não se partilha do que é "seu" pois não se sabe ter maior ceu! Aqui tem-se medo que um comerciante tenha um sucesso maior do que o seu! Quando o sucesso de um ser maior é alimento para muitos seres maiores! Continuamos a reunirnos sim... mas longe daqui! e a nossa obra não precisa de ser esquecida pois a nossa obra já não existe! E o que ficar escrito será sempre pouco para dizer o que esta cidade foi. Não sei muito. Não tenho medo de fazer. Mas quem quer que eu faça? Todos querem. E o que como eu? Como como comia antes de saber como comer - não comendo! Morro então mais sossegado. Afinal não estava desligado como pessoa, apenas não existia comida em Faro! É fácil dizer que as pessoas estão desligadas quando não se assume a responsabilidade de nos alimentarmos uns aos outros! Vão-se queixando que eu já fui! Abraços e Boas investigações. Estou na brasileira a falar com o Fernando Pessoa! (Não levem a mal porque existo e estou errado)
A grande feira
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
detesto escrever... notas biográficas
Luís Nogueira, que assina o que escreve como Luís Ene, tinha 16 anos em 25 de Abril de 1974 e reside actualmente em Faro, onde passou grande parte da sua infância e a adolescência. Em 2002, foi vencedor da 1ª edição do concurso Novos Talentos com o romance A Justa Medida, publicado pela Porto Editora. No mesmo ano criou o blog Mil e Uma Pequenas Histórias, fazendo em simultâneo a sua entrada no mundo dos blogs e na arte da micro-narrativa. Desde então manteve vários blogs e publicou três livros: Blogs (em colaboração com Paulo Querido), Mil e uma pequenas histórias (Leiturascomnet, 2005) e Muchas vezes me sucede olvidar quien soy ( colecção Palavra Ibérica, 2006). Está representado na Antologia de Poesia Portuguesa Actual - Poema Poema (Aullido. Huelva, 2006), na antologia Contos de Algibeira (Porto Alegre, Casa Verde, 2007) e na Primeira Antologia de Micro-Ficção Portuguesa (Lisboa, êxodus, 2008). Foi fundador e co-editor da Minguante, revista de micro-narrativas on line. Manteve durante dois anos um programa semanal dedicado à literatura na Rádio Universitária do Algarve. Faz parte do projecto musical SomComTom.
Separação
separação:
se pára a acção
separação:
se pára cor e acção
separação:
se pára coração
separação:
separa coração
separação
domingo, 5 de setembro de 2010
dizer poesia
Ama como a estrada começa
ou António Ramos Rosa
....O ar......passa....
através das palavras
ou ainda, porque não, Tiago Nené (Mots-valise)
incrível como são os olhos com sede
os que deixam cair a água
de forma pausada, quase soletrando as palavras.
Vão ver que funciona.
Fico à espera de ouvir dizer esses poemas por aí.
sábado, 4 de setembro de 2010
Notícia de última hora
de ver os heróis cair
dizes tu que subiste a pulso
tu que já foste e continuas
a ser um herói
para ti mesmo
esquecendo-te sempre
dos outros.
As pessoas gostam de heróis
essa é que é verdade
e quando os vêem cair
só então percebem
que eles são como tu.
É por isso que as pessoas
gostam de ver
os heróis cair
heróis como
tu
rising
I GOT CAUGHT IN A STORM
CARRIED AWAY
I GOT TURNED TURNED AROUND
I GOT CAUGHT IN A STORM
THAT'S WHAT HAPPENED TO ME
SO I DIDN'T CALL
AND YOU DIDN'T SEE ME FOR A WHILE
I WAS RISING UP
HITTING THE GROUND
AND BREAKING AND BREAKING
I WAS CAUGHT IN A STORM
THINGS WERE FLYING AROUND
DOORS WERE SLAMMING AND WINDOWS WERE BREAKING
AND I COULDN'T HEAR WHAT YOU WERE SAYING
I COULDN'T HEAR WHAT YOU WERE SAYING
I COULDN'T HEAR WHAT YOU WERE SAYING
I WAS RISING UP
HITTING THE GROUND
AND BREAKING AND BREAKING
I WAS RISING UP
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Arrumador
Arrumador:
arrumador arruma:
arruma a dor.
Arrumador:
arrumador arreia:
arreia a dor arrumador.
Arrumador:
arrumador dá rumo: dá rumo à dor:
à dor de arrumador.
A rua é uma dor arrumador:
arruma a dor que és da rua
amador: arrumador.
poetry slam
Espreito a televisão e volto a pensar no estado da literatura ao ouvir falar de poetry slam. Investigo e parece-me uma boa ideia, seja em que moldes for. Quem quer pegar nisto em Faro?
Valter, estás a ler-me?
investigação em curso
Altura de reler/analisar o que já aqui foi avançado, fazer um balanço provisório e seguir em frente.
Façam o mesmo e vão dizendo coisas.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
sem ti
1. Sem ti / senti / metal
2. Sem ti / senti-me / o tal
3. Sem ti / senti-me / mal
4. Sem ti / assento / mal
5. Sem ti / 100 de / emental
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
obrigado António
Obrigado António, foi preciso tropeçar nisto para me lembrar de quanto gostas de poesia e de quanto a tens divulgado no teu blog.
o poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
Luíza Neto Jorge --->
lit.algarve
Oscilo entre a satisfação (pela realização do Festival) e o espanto (ligeiro) de ser realizado por estrangeiros residentes em Portugal. Na verdade conheço no Algarve outras situações ligadas às artes plásticas.
Português que sou, apetece-me lamentar-me e intrigar, o que sem dúvida suscitaria que mais pessoas participassem nesta discussão, sobretudo se eu jogasse umas achas na fogueira, dizendo que, perante isto, quero é ser estrangeiro, ou que os portugueses gostam é de falar mal e fazer pouco, o que se estende sem dúvida ao meio literário.
Mas não vou fazer nada disso. Vou é congratular-me com o o Festival, participar e continuar a investigação. E viva a literatura.
Programa completo.
Cruzeiro Seixas
Ouvir.