ENE COISAS
Nada é simples quando se trata de palavras.
Quando se trata de palavras até a palavra simples é complicada.
um blog de Luís Ene
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
GURU DE ALGIBEIRA
O meu livro mais recente - Guru de Algibeira - já está aí. É um pequeno grande livro de conselhos e epifanias breves. Uma escrita cheia de paradoxos, como a vida. E de ironias.
O prefácio do Fernando Cabrita faz-me todo o sentido e ainda me rio quando me recordo de que alguém a quem mostrei o livro numa fase inicial, o achou demais para o livro, demasiado elogioso, presumo.
Quem quiser comprar, esteja à vontade. Enviarei ou entregarei o livro em mão, devidamente autografado, durante o mês de Agosto. O preço também é um paradoxo, pequeno na dimensão e grande na oportunidade: 5 Euros + portes, se for caso disso.
Há o conteúdo, claro, e há a
forma, e às vezes os dois encontram-se e o conteúdo é forma e a forma conteúdo.
Parece-me ser esse o caso - modéstia ou imodéstia à arte - do Guru de
Algibeira. E digo isso não só quanto ao texto e à sua estrutura, mas também
quanto ao próprio livro: o tamanho, a capa, o grafismo das páginas... A
fotografia do Fernando Dinis,
tirada a meu pedido, porque queria uma fotografia de costas, saiu melhor do que
a encomenda, para usar um lugar comum.
Confesso que estou satisfeito. O Jaime de Almeida e
a Sílabas & Desafios fizeram um bom trabalho. A reacção ao livro, desde
logo como objecto, tem sido de surpresa e de admiração. Quanto ao livro em si,
aos textos, as reacções também têm sido positivas.
O prefácio do Fernando Cabrita faz-me todo o sentido e ainda me rio quando me recordo de que alguém a quem mostrei o livro numa fase inicial, o achou demais para o livro, demasiado elogioso, presumo.
Pois bem, caros leitores agora é
com vocês, pela minha parte ainda farei umas palestras recitais com o livro,
mas o tempo é de ir em frente, por assim dizer.
quinta-feira, 27 de julho de 2017
GURU DE ALGIBEIRA
O meu livro mais recente - Guru de Algibeira - está quase a
sair. É um pequeno grande livro de conselhos e de epifanias que leva a escrita
breve aos limites entre a vulgaridade mais óbvia e a sabedoria mais profunda.
Uma escrita cheia de paradoxos, como a vida. E de ironias.
Quem quiser reservar, esteja à vontade. Enviarei ou entregarei o livro em mão, devidamente autografado, durante o mês de Agosto. O preço também é um paradoxo, pequeno na dimensão e grande na oportunidade: 5 Euros.
Quem quiser reservar, esteja à vontade. Enviarei ou entregarei o livro em mão, devidamente autografado, durante o mês de Agosto. O preço também é um paradoxo, pequeno na dimensão e grande na oportunidade: 5 Euros.
Contactem-me pelo mail lnogueira1@gmail.com
sexta-feira, 14 de julho de 2017
quinta-feira, 13 de julho de 2017
terça-feira, 27 de junho de 2017
JÁ ALGUÉM DEVE TER DITO ISTO
Dizes-me para me colocar no teu lugar! A verdade é que te compreendo
muito bem, já estive nesse lugar e não gostei. Não percebo é porque ainda aí
estás!
Os espelhos
recordam ao real que ele existe.
Um escritor é sempre um escritor, mesmo quando é mau; um escritor
desonesto é sempre desonesto, mesmo quando é escritor.
O poema é dor e espanto engarrafados.
Somos quem não conseguimos deixar de ser, somos quem temos a coragem de
ser.
Não penses, para existir não é preciso pensar!
Sou muitas vezes parvo mas tenho os meus momentos de lucidez, aqueles em
que percebo que sou muitas vezes parvo.
Se pudéssemos ser sempre felizes íamos ser muito infelizes.
Não desistas, poderás nunca ganhar mas também nunca perderás!
O escritor é um cego que teima em ver.
Nasceste nu, mas cedo te vestiste de ti.
Os livros são árvores a que subimos para ver mais longe.
Os livros são labirintos onde nos encontramos.
Os livros são espelhos em que nos lemos.
O paraíso é o espaço e o tempo em que improvavelmente és feliz.
Sê autêntico mesmo que te sintas esquisito, ser esquisito é ser singular.
Para ser é preciso querer, mas também é preciso aprender a não resistir a
esse querer.
Dizes a ti mesmo que não faz mal, que é por tentativa e erro que sempre
se avança, e tentas de novo e de novo erras. E dizes a ti mesmo que tentar de
novo pode ser um erro em si, e talvez de novo erres, mas deixas de tentar.
Não tenho muito para vos dar, mas espero que desse pouco possam retirar
muito. É assim que escrevo.
Não acredito na divisão entre corpo e alma: o corpo tem ele mesmo uma
alma; a alma tem ela mesma um corpo.
As palavras são roupa com que nos enfeitamos e nos protegemos.
Dizer que não se tem palavras para dizer alguma coisa é dar demasiada
importância às palavras.
Nunca sou, antes estou, estou sempre a ser.
Muito do que calo é o que eu queria dizer, muito do que eu queria dizer é
silêncio.
Amor é mar, aroma, romã, melodia exuberante de uma só nota.
A intimidade intimida-me, facilmente as palavras se tornam palavreado.
Não vás, deixa-te ir: é a única forma de chegar.
Deixas de estar sozinho quando aceitas que (só) estás só.
Se podes vestir-te de medos, também podes despir-te deles.
Aprendo imenso com a dor e o sofrimento, mas dispensava-os bem!
Que sentido faria viver se a vida tivesse um sentido?
O que se diz é importante, mas o modo como se diz é ainda mais
importante.
Talvez me preocupe bastante ser (ou não ser) amado, mas preocupa-me muito
mais ser (ou não ser) capaz de amar.
Talvez o amor não seja único, mas a verdade é que ele não se repete.
O amor é ditadura, o amor é utopia, o amor é uma doença autorizante.
Nunca desistas (de viver), viver é resistir, viver é insistir.
É ao ritmo do coração que vivemos, escuta sempre o teu coração (ou
ficarás com maus fígados).
A tristeza é um mar (que te rodeia), tens de aprender a caminhar sobre as
águas se queres ser feliz.
De nada servirá a dor se nada aprendermos com ela.
Dar pérolas a porcos é como dar toucinho a ostras.
Quando um não quer, dois não podem.
Para bom entendedor meia palavra bas...
Muitas vezes, para encontrar o coração, é preciso perder a cabeça.
Não penses duas vezes se podes pensar três.
Tu também és o medo que sentes, mas não te esqueças de que o medo que
sentes não és tu.
Somos sempre quem escolhermos ser.
Se não tens tomates não podes fazer salada (de tomate)!
O "mas" é a bengala e a âncora da cobardia.
Tenho pouco para dar, mas dou mais do que tenho.
Deixa de procurar a felicidade e terás mais tempo para ser feliz.
A corrente incensação de escritores medíocres revela a continua
necessidade de literatura na nossa vida.
Diz-se que há cada vez mais maus escritores, mas também se poderia dizer
que há cada vez mais maus leitores. Interessam-me mais os segundos que os
primeiros, é verdade, mas num e noutro caso é sempre a literatura que é
prejudicada: ganha maus escritores e perde bons leitores.
Voar é viver acima das nossas limitações.
Pensas que se nada fizeres não errarás e já cometeste o maior dos erros.
É muito difícil ser simples, só nos dicionários é que simples e fácil são
uma mesma coisa.
Não existem bandos de um, por mais que qualquer um queira.
Somos todos palimpsesto.
Na cena literária todos têm um papel, ainda que seja higiénico.
Podemos até achar que a vida nunca tem sentido, mas em nenhum caso
devemos perder o sentido de humor.
Qual é a semelhança entre um autor e um operário da construção civil?
Ambos trabalham na obra.
Ambos trabalham na obra.
Tens razão, tens toda a razão! É verdade, é mesmo verdade (não deixa no
entanto de ser apenas a tua razão).
A vida é uma balança de dois pratos (ora muito triste, ora muito feliz)
raramente em equilíbrio.
Talvez não seja preciso tanto compreender a vida como dar-lhe um sentido;
mas não será afinal o mesmo?
A única solução para todos os problemas é aceitar que nem todos os
problemas têm solução.
Há os que têm tudo e nunca têm nada e os que têm sempre tudo mesmo quando
nada têm.
O bode expiatório tem as costas largas.
Tentar fazer já é fazer. Quanto mais tentas, mais fazes.
Saber ouvir (os outros e a nós mesmos) é pura sabedoria.
A sabedoria pode ser muda, mas nunca é surda.
Nada tem sentido, somos nós que conferimos sentido a tudo.
A vida é, basicamente, como diria a minha filha, amar e sofrer.
Escrever é a minha forma de estar calado.
O que nos define é o modo como lidamos com as nossas limitações.
Acredito tanto mais em mim quanto mais duvido de mim.
Quando falamos mal dos outros é quase sempre de nós que falamos.
Se queres parecer inteligente, cala-te.
Bizarro quantas vezes se nega o amor em nome do amor!
A escrita é uma rede que tudo captura e tudo deixa escapar.
Talvez a verdade seja uma ilusão, mas a sua procura é bem real.
Raramente me zango com quem quer que seja, fico apenas triste e
desiludido.
Quanto maior é a intensidade com que vivemos maior é o controlo que
necessitamos e menor é o controlo que temos.
Se queres que te ouçam, experimenta calar-te.
Existe a maré-alta e a baixa-mar, mas o mar é só um.
Fazer com que as pequenas preocupações se tornem grandes é a forma mais
comum de nos preocuparmos.
O mais sério que podes ser/fazer é não te levares (demasiado) a sério.
Se não duvidas, nem por um momento, de estar certo, já estás errado.
Só há uma única forma de fazer e é fazendo. Tentando, errando e
persistindo.
Não sou nem tão sábio nem tão tolo quanto precisaria para conhecer a
serenidade.
Quando, numa relação, um nunca tem razão, a razão só pode ser o outro.
Prefiro os sábios aos cultos. Os sábios podem não ser cultos, mas nunca
serão idiotas. Já os idiotas, muitos são cultos.
A verdade seria muitas vezes óbvia e acessível, não a julgássemos nós
quase sempre obscura e inacessível.
Não te esforces, nunca te esforces, limita-te a fazer.
Se já perdeste a guerra, porque ainda travas batalhas?
Nunca se é culpado desde que se seja responsável (ou não).
Sou como sou, o que quer que isso seja.
Ser livre é (ser capaz de) escolher a que (ou a quem) servir.
Para que exista um diálogo é preciso que todos estejam disponíveis para
ouvir. Se tal não acontecer, estou fora. Se então me acusarem de não estar
disposto a ouvir, é porque não estou mesmo.
Talvez ser menos seja ser mais.
Estar concentrado não é ser menos, é ser mais.
Gostar ou não gostar, eis o Facebook.
Age como tiveres de agir que eu agirei como tiver de agir. Sem
ressentimentos.
A verdadeira força é fazer das fraquezas força.
Queres ser compreendido/a? Talvez devas começar por tentar compreender os
outros!
Persisto porque é da minha natureza persistir, ou sou assim apenas porque
persisto?
Ter uma imagem de si mesmo melhor do que aquela que os outros têm de si,
não só é normal como também é necessário.
O mais importante é quase invisível. Podes pressenti-lo mas não podes
vê-lo.
Não procures fora de ti o que só dentro de ti existe.
Não sabermos quem somos é sermos. Ser é sempre estar à procura.
Cada vez mais me preocupo menos com o que não é importante.
Pior que ser parvo é não saber que se é parvo.
Ser ridículo é inevitável quando se é humano, mas mais vale ser do que
parecer.
Cala-te com frequência, não só ouvirás mais como a vida te correrá
melhor.
Somos tão bons a criar regras como a criar excepções.
Umas vezes é preciso encher a taça, outras vezes é preciso esvaziá-la.
Enganar os outros é fácil, difícil é ser honesto.
Não acreditas em ti porque existes, a verdade é que existes porque
acreditas em ti. Acredita em ti.
Os defeitos e as virtudes têm muito menos importância em si do que o modo
como nós os encaramos e usamos.
Ao amor não interessa se é correspondido ou quanto tempo dura, ao amor
basta-lhe existir.
sexta-feira, 7 de abril de 2017
Ó DIABO
Olhei para o homem com insistência até que ele deu por isso e me devolveu
o olhar. Na verdade, não só me devolveu o olhar, como me sorriu. Virei a cara e
esforcei-me por não o olhar de novo, no entanto, pouco depois, dei por mim a
olhá-lo de outra vez com insistência.
É que ele era mesmo esquisito e eu sou muito curioso, pelo menos é o que
os meus pais me estão sempre a dizer. E os meus amigos também, para dizer a
verdade. O Paulo, o meu melhor amigo, quando se quer meter comigo, costuma
dizer que eu sou tão curioso que até gosto de estudar, e é verdade, mas ele diz
aquilo só para se meter comigo e eu não gosto, porque os que andam na minha
turma e gostam muito de estudar são quase sempre muito aborrecidos.
Eu gosto de estudar, gosto de saber coisas, sou curioso, não vejo nada de
mal nisso, mas também gosto de brincar e de me divertir. Se querem saber,
estudar pode ser divertido, coisa que às vezes os professores parecem ter
esquecido.
Os professores, salvo raras excepções, e os adultos em geral, levam
sempre tudo muito sério e são bastante aborrecidos. O homem estava outra a vez
a sorrir-me, o que era só por si esquisito, não fosse ele mesmo ser bastante
esquisito.
Era esquisito, sim, mas não era um esquisito assustador, era mais um
esquisito apenas esquisito, como se fosse, sei lá, um cão com cornos, que seria
esquisito, sem dúvida, mas não tão esquisito que me assustasse, por que há
animais com cornos e nem por isso são perigosos, e claro que existem cães,
alguns bastante assustadores, mas não por terem cornos.
Os meus pais também me dizem que tenho uma imaginação muito grande, mas
os adultos parecem todos achar que as crianças têm todas uma imaginação muito
grande, o que não deixa de ser verdade, mas alguns adultos também têm uma
imaginação muito grande, sobretudo os artistas.
Seja como for o homem era esquisito, tão esquisito que eu nem sou capaz
de dizer porquê, isto porque aquilo que o tornava esquisito não era nada óbvio,
não era algo que se pudesse na verdade descrever, era preciso ver, ou melhor,
era preciso sentir. Parecia mover-se muito mais lentamente que o normal e digo
isto ainda que ele estivesse sentado, o que pode parece estranho; mas quando
sorriu o seu sorriso abriu-se tão lentamente que parecia que estava a sorrir em
câmara lenta e a verdade é que ele até poderia mover a cabeça lentamente, o que
de facto também aconteceu, mas qualquer um pode mover a cabeça lentamente,
agora sorrir é que não, é algo quase involuntário, que ninguém controla de
maneira que permita sorrir como ele sorria.
Fiquei intrigado, fiquei mesmo intrigado, e soltei uma imprecação que
aprendi com o meu avô: Ó diabo! E mal disse isto, o homem à minha frente desapareceu,
sim, desapareceu, não se foi embora, desapareceu mesmo, do pé para a mão, sem
mais nem menos. Ó diabo, repeti, Ó diabo!
terça-feira, 7 de março de 2017
#enepequenashistorias (actualizado)
E de repente dás por ti do lado de lá. Dás por ti do lado de lá e a
surpresa que sentes não é a de aí estares mas a surpresa de aí teres chegado,
como se de repente visses o que sempre podias ter visto mas nunca antes viras.
Tentas descrever essa sensação, certo de que em breve desaparecerá, mas sentes
que as palavras simples que dispões em frases simples, em vez de a revelarem,
ainda mais a ocultam. E pouco a pouco, muito pouco a pouco, dás por ti do lado
de cá do então lado de lá.
Acreditou que estava a multiplicar-se, mas a verdade é que estava a
dividir-se. Seja como for, passou de um a muitos.
Vivia sempre aqui e agora, umas vezes mais aqui, outras vezes mais agora.
Mas tu nem sabias que eu existia, retorquiu-lhe ela, quando ele lhe
declarou o seu amor, mas a verdade é que nem ele mesmo sabia que existia antes
de a conhecer.
Quando era novo, não acreditavam nele porque era novo; quando finalmente
chegou a velho, não acreditavam nele porque era velho. Verdade seja dita, a ele
aconteceu-lhe exactamente o mesmo.
Os lápis levam vidas perigosas, cheias de riscos. As borrachas são
assassinos autofágicos. Escusado será acrescentar que os apara-lápis são
tarados sexuais e as folhas em branco virgens excitadas.
Seguiu sempre a sua natureza, talvez por isso nunca a tenha
verdadeiramente encontrado. (Às vezes, ficar parado é melhor do que estar em
movimento.)
Esqueceu-se de tal forma de si mesmo que esqueceu a sua própria natureza.
Ou talvez a sua natureza fosse esquecer-se.
A amendoeira oferecia as suas flores a quem passava e quem as via logo as
levava consigo no branco tingido de rosa dum olhar bucólico.
Ele era ou estava apenas a ser? E estava a ser ele mesmo ou estava a ser
outro? Não interessava, não interessava mesmo nada; fosse como fosse, ele podia
sempre dizer quem era e só isso verdadeiramente interessa. (Somos sempre quem
escolhermos ser.)
Procurou a todo o custo entrar em contacto com a namorada, até que se
lembrou de que não tinha namorada e desistiu. Talvez fosse por isso mesmo que
não tinha namorada!
Um dia deixou de procurar a felicidade, a partir daí foi muito mais
feliz.
(Deixa de procurar a felicidade e terás mais tempo para ser feliz.)
(Deixa de procurar a felicidade e terás mais tempo para ser feliz.)
Queria ser saudável, poderoso e famoso. Com o tempo tornou-se poderoso,
mas tinha perdido toda a saúde e logo morreu, tornando-se incrivelmente famoso.
Era bom, muito bom, excelente mesmo, a dizer que era bom. Na verdade era
a única coisa em que ele era mesmo bom.
Quanto mais se esforçava por sobreviver menos vivia, até que um dia
morreu sem quase ter vivido. Nunca percebeu que fugia da vida quando pensava
estar a fugir da morte.
As suas críticas eram tão acutilantes que, com o tempo, tornou-se
assassino profissional.
A tristeza enchia-o tanto que quando transbordava ele se sentia quase
alegre.
Achava a vida um desafio e ria-se sempre dos desafios, escusado será
dizer que morreu a rir.
Cresce e aparece, disseram-lhe, e ele cresceu, cresceu e cresceu; cresceu
tanto que quase desapareceu.
O bode expiatório só descansou quando encontrou a cabra incriminadora.
Vinham de muito longe com as suas perguntas e o sábio ouvia tudo o que
lhe diziam mas nada respondia, facto que nunca impediu que muitos obtivessem
uma resposta. (Na verdade todos sabemos que perguntar é quase responder, basta
ouvir bem as perguntas.)
Estava um homem sentado, nada fazendo, quando a morte se aproximou por
detrás, pé ante pé, e lhe gritou bem alto aos ouvidos: Vive! Vive agora! Escusado
será dizer que homem se assustou de tal forma que...
Errou, errou e continuou a errar, mas nunca desistiu: sabia que esse era
o único caminho certo.
Muitas vezes foi infeliz, mas nunca o procurou; talvez por isso afirmasse
com convicção que todavia foi sempre feliz.
Falava mal de tudo e de todos e sentia-se bem, até que um dia deu por si
a falar mal de si mesmo e sentiu-se ainda melhor. Daí para a frente nunca mais
falou mal de nada nem de ninguém a não ser de si mesmo.
Tinha ideias próprias e expressava-as com grande convicção. Que ninguém
percebesse o que dizia não vem ao caso. E que só a si se ouvisse, também não.
Decidiu um dia que ia ser escritor. Vou ser romancista e poeta, afirmou
sem hesitações. Tinha dupla personalidade.
Enfiou barrete em cima de barrete até que a sua cabeça mais parecia uma
avelã. Talvez por isso se achasse tão diferente, talvez por isso achasse que os
outros eram todos tão iguais.
Nunca se sentiu feliz por estar vivo, no entanto vezes houve momentos em
que se sentiu feliz por não estar morto.
Nunca leu um romance do princípio ao fim, na verdade leu sempre apenas o
princípio e o fim de cada um deles, o que não o impediu de ser um dos críticos
mais certeiros e mais influentes do seu tempo e, verdade seja dita, lhe deixou
muito mais tempo para pensar.
Um dia decidiu que ia ser escritor e logo ali escreveu meia dúzia de
excelentes títulos. Agora só falta escrever os livros, vociferou com ênfase.
Estava preocupado, muito preocupado, e quanto mais preocupado estava mais
preocupado ficava, até que olhou a sua preocupação bem de frente e a viu
diminuir progressivamente até desaparecer por completo. Foi então, nesse exacto
momento em que percebeu que não tinha afinal qualquer razão para estar
preocupado, que ficou verdadeiramente preocupado: Como é que tinha sido
possível ficar tão preocupado sem qualquer razão para isso?
Era um homem alegre, um optimista, e foi essa característica que o
manteve sempre feliz mesmo em tempos de maior infelicidade.
Um homem esforçou-se toda a sua vida por ser bom para os outros e umas
vezes foi e outras não. E isso não se deveu tanto ao seu esforço como às suas
acções.
No momento em que alcançou tudo o que sempre quisera, percebeu que nunca
quisera nada daquilo. Morreu feliz.
segunda-feira, 6 de março de 2017
JÁ ALGUÉM DEVE TER DITO ISTO (ACTUALIZAÇÃO)
Não tenho muito para vos dar, mas espero
que desse pouco possam retirar muito. É assim que escrevo.
Não acredito na
divisão entre corpo e alma: o corpo tem ele mesmo uma alma; a alma tem ela
mesma um corpo.
As palavras são
roupa com que nos enfeitamos e nos protegemos.
Dizer que não se
tem palavras para dizer alguma coisa é dar demasiada importância às palavras.
Nunca sou, antes
estou, estou sempre a ser.
Muito do que
calo é o que eu queria dizer, muito do que eu queria dizer é silêncio.
Amor é mar, aroma,
romã, melodia exuberante de uma só nota.
A intimidade
intimida-me, facilmente as palavras se tornam palavreado.
Não vás,
deixa-te ir: é a única forma de chegar.
Deixas de estar
sozinho quando aceitas que (só) estás só.
Se podes
vestir-te de medos, também podes despir-te deles.
Aprendo imenso
com a dor e o sofrimento, mas dispensava-os bem!
Que sentido
faria viver se a vida tivesse um sentido?
O que se diz é
importante, mas o modo como se diz é ainda mais importante.
Talvez me
preocupe bastante ser (ou não ser) amado, mas preocupa-me muito mais ser (ou
não ser) capaz de amar.
Talvez o amor
não seja único, mas a verdade é que ele não se repete.
O amor é
ditadura, o amor é utopia, o amor é uma doença auto-imune.
Nunca desistas
(de viver), viver é resistir, viver é insistir.
É ao ritmo do
coração que vivemos, escuta sempre o teu coração (ou ficarás com maus fígados).
A tristeza é um
mar (que te rodeia), tens de aprender a caminhar sobre as águas se queres ser
feliz.
De nada servirá
a dor se nada aprendermos com ela.
Dar pérolas a
porcos é como dar toucinho a ostras.
Quem ama o feio, parece mais bonito.
Quando um não quer, dois não podem.
Para bom entendedor meia palavra bas...
Quem jura é
jurado.
Muitas vezes,
para encontrar o coração, é preciso perder a cabeça.
Não penses duas
vezes se podes pensar três.
Não vivas amanhã o que podes viver hoje.
Com coisas sérias não se usa brinco.
Tu também és o
medo que sentes, mas não te esqueças de que o medo que sentes não és tu.
Somos sempre quem
escolhermos ser.
Se não tens
tomates não podes fazer salada (de tomate)!
O
"mas" é a bengala e a âncora da cobardia.
Tenho pouco para
dar, mas dou mais do que tenho.
As palavras
beijam-nos e abraçam-nos, mas os beijos e os abraços são mudos.
Deixa de
procurar a felicidade e terás mais tempo para ser feliz.
A corrente
incensação de escritores medíocres revela a continua necessidade de literatura
na nossa vida.
Diz-se que há
cada vez mais maus escritores, mas também se poderia dizer que há cada vez mais
maus leitores. Interessam-me mais os segundos que os primeiros, é verdade, mas
num e noutro caso é sempre a literatura que é prejudicada: ganha maus
escritores e perde bons leitores.
Voar é viver
acima das nossas limitações.
Pensas que se
nada fizeres não errarás e já cometeste o maior dos erros.
É muito difícil
ser simples, só nos dicionários é que simples e fácil são uma mesma coisa.
Não existem
bandos de um, por mais que qualquer um queira.
Somos todos
palimpsesto.
Na cena
literária todos têm um papel, ainda que seja higiénico.
Podemos até
achar que a vida nunca tem sentido, mas em nenhum caso devemos perder o sentido
de humor.
Qual é a
semelhança entre um autor e um operário da construção civil?
.
.
.
Ambos trabalham na obra.
.
.
.
Ambos trabalham na obra.
Tens razão, tens
toda a razão! É verdade, é mesmo verdade (não deixa no entanto de ser apenas a
tua razão).
A vida é uma
balança de dois pratos (ora muito triste, ora muito feliz) raramente em
equilíbrio.
Talvez não seja
preciso tanto compreender a vida como dar-lhe um sentido; mas não será afinal o
mesmo?
A única solução
para todos os problemas é aceitar que nem todos os problemas têm solução.
Há os que têm
tudo e nunca têm nada e os que têm sempre tudo mesmo quando nada têm.
O bode expiatório
tem as costas largas.
Tentar fazer já
é fazer. Quanto mais tentas, mais fazes.
Saber ouvir (os
outros e a nós mesmos) é pura sabedoria.
A sabedoria pode
ser muda, mas nunca é surda.
Nada tem
sentido, somos nós que conferimos sentido a tudo.
A vida é,
basicamente, como diria a minha filha, amar e sofrer.
Escrever é a
minha forma de estar calado.
O que nos define
é o modo como lidamos com as nossas limitações.
Acredito tanto
mais em mim quanto mais duvido de mim.
Quando falamos
mal dos outros é quase sempre de nós que falamos.
Se queres
parecer inteligente, cala-te.
Bizarro quantas
vezes se nega o amor em nome do amor!
A escrita é uma
rede que tudo captura e tudo deixa escapar.
Talvez a verdade
seja uma ilusão, mas a sua procura é bem real.
Raramente me
zango com quem quer que seja, fico apenas triste e desiludido.
Quanto maior é a
intensidade com que vivemos maior é o controlo que necessitamos e menor é o
controlo que temos.
Se queres que te
ouçam, experimenta calar-te.
Existe a maré-alta
e a maré-baixa, mas o mar é só um.
Fazer com que as
pequenas preocupações se tornem grandes é a forma mais comum de nos
preocuparmos.
O mais sério que
podes ser/fazer é não te levares (demasiado) a sério.
Se não duvidas,
nem por um momento, de estar certo, já estás errado.
Só há uma única
forma de fazer e é fazendo. Tentando, errando e persistindo.
Não sou nem tão
sábio nem tão tolo quanto precisaria para conhecer a serenidade.
Quando, numa
relação, um nunca tem razão, a razão só pode ser o outro.
Prefiro os
sábios aos cultos. Os sábios podem não ser cultos, mas nunca serão idiotas. Já
os idiotas, muitos são cultos.
A verdade seria
muitas vezes óbvia e acessível, não a julgássemos nós quase sempre obscura e
inacessível.
Não te esforces,
nunca te esforces, limita-te a fazer.
Não há
escritores menores, há apenas escritores baixos.
Se já perdeste a
guerra, porque ainda travas batalhas?
Nunca se é
culpado desde que se seja responsável (ou não).
Sou como sou, o
que quer que isso seja.
Ser livre é (ser
capaz de) escolher a que (ou a quem) servir.
Para que exista
um diálogo é preciso que todos estejam disponíveis para ouvir. Se tal não
acontecer, estou fora. Se então me acusarem de não estar disposto a ouvir, é
porque não estou mesmo.
Talvez ser menos
seja ser mais.
Estar
concentrado não é ser menos, é ser mais.
Gostar ou não
gostar, eis o Facebook.
Age como tiveres
de agir que eu agirei como tiver de agir. Sem ressentimentos.
A verdadeira
força é fazer das fraquezas força.
Queres ser compreendido/a?
Talvez devas começar por tentar compreender os outros!
Persisto porque
é da minha natureza persistir, ou sou assim apenas porque persisto?
Ter uma imagem
de si mesmo melhor do que aquela que os outros têm de si, não só é normal como
também é necessário.
O mais
importante é quase invisível. Podes pressenti-lo mas não podes vê-lo.
Não procures
fora de ti o que só dentro de ti existe.
Não sabermos
quem somos é sermos. Ser é sempre estar à procura.
Cada vez mais me
preocupo menos com o que não é importante.
Pior que ser
parvo é não saber que se é parvo.
Ser ridículo é
inevitável quando se é humano, mas mais vale ser do que parecer.
Cala-te com
frequência, não só ouvirás mais como a vida te correrá melhor.
Somos tão bons a
criar regras como a criar excepções.
Umas vezes é
preciso encher a taça, outras vezes é preciso esvaziá-la.
Enganar os
outros é fácil, difícil é ser honesto.
Não acreditas em
ti porque existes, a verdade é que existes porque acreditas em ti. Acredita em
ti.
Os defeitos e as
virtudes têm muito menos importância em si do que o modo como os encaramos e
usamos.
Ao amor não
interessa se é correspondido ou quanto tempo dura, ao amor basta-lhe existir.
domingo, 12 de fevereiro de 2017
Manhã de Domingo na cidade velha
Vida:
como ir a direito
se o caminho serpenteia sempre?
*
Céu cinzento
Promessa de chuva
Desilusão
*
Linha do comboio -
e se a vida for
apenas isto?
*
Os candeeiros apontam o céu
as gaivotas imitam o vento -
manhã de domingo
*
O céu e a gaivota -
Ambos vestidos
de inverno
*
O cais repousa
no cinzento do mar
ou no cinzento do céu?
*
O vento gosta
dos cabelos compridos
ou será que os detesta?
como ir a direito
se o caminho serpenteia sempre?
*
Céu cinzento
Promessa de chuva
Desilusão
*
Linha do comboio -
e se a vida for
apenas isto?
*
Os candeeiros apontam o céu
as gaivotas imitam o vento -
manhã de domingo
*
O céu e a gaivota -
Ambos vestidos
de inverno
*
O cais repousa
no cinzento do mar
ou no cinzento do céu?
*
O vento gosta
dos cabelos compridos
ou será que os detesta?
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
MANHÃ DE DOMINGO NA ILHA DE FARO
uma mão na costa
outra mão na ria
espreguiça-se a ilha
*
caminho sem pressas
junto ao mar
a areia recorda
*
escrevo na areia
com uma cana
o mar vem ler
*
as ondas vêm e vão
as pegadas
também
*
entre o branco da espuma das ondas
e o branco das ondas
a ilha
*
linha da costa
linha do horizonte
entre uma e outra o mar
*
escrevo uma linha
escrevo outra linha
para quê escrever mais?
(...)
outra mão na ria
espreguiça-se a ilha
*
caminho sem pressas
junto ao mar
a areia recorda
*
escrevo na areia
com uma cana
o mar vem ler
*
as ondas vêm e vão
as pegadas
também
*
entre o branco da espuma das ondas
e o branco das ondas
a ilha
*
linha da costa
linha do horizonte
entre uma e outra o mar
*
escrevo uma linha
escrevo outra linha
para quê escrever mais?
(...)
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
DA MINHA JANELA VÊ-SE O ALGARVE - 02FEV2017
Em Portugal, nada se cria, nada
se perde, tudo fica na mesma.
Um livro é escrito e depois é publicado;
são dois momentos diferentes, um privado e outro público, e assim devem ser
entendidos. Se me perguntassem o que se deve exigir de um livro, diria que, num
primeiro momento, ele deve ser escrito por necessidade, o que pode não ser
suficiente mas é sem dúvida condição necessária para um bom livro. Um livro que
não se escreve por necessidade muito dificilmente será um livro necessário. Num
segundo momento, o da publicação, diria que esse livro deve ser capaz de
mostrar algo de novo ao leitor porque, nas palavras do escritor Arturo
Perez-Reverte, “Um livro que não muda o olhar do leitor é uma merda de livro. E
o mundo está cheio de merdas de livros que não mudam nada. São apenas fruto da
vaidade onanista de autores que não têm nada para dizer."
Assim, tomemos por hipótese que
um livro foi escrito e publicado, um livro escrito por necessidade que oferece
ao leitor uma nova forma de ver o mundo. Mas será tal condição suficiente para
que seja lido? Se o livro está escrito pode ser lido, pelo menos pelos leitores
da mesma língua, porém é preciso que saibam que foi escrito e que esteja à
disposição do leitor, e essa é sem dúvida outra história. Muitas razões poderiam
ser invocadas, mas gostaria de salientar uma, que me parece bem portuguesa e
que o filósofo José Gil bem apontava no seu livro “Portugal, Hoje – O Medo de
Existir”, e a que chama “não inscrição”. Nas palavras de José Gil, “Pode-se
continuar como se nada se tivesse passado. Os acontecimentos não se inscrevem
em nós, nem nas nossas vidas, nem nós nos inscrevemos na História. Por isso, em
Portugal nada acontece.”
Brincando muito a sério com esta
situação, adaptei em tempos a lei de Lavoisier à realidade portuguesa,
transformando a conhecida fórmula “Na natureza, nada se cria, nada se perde,
tudo se transforma” no meu próprio lamento doloroso “Em Portugal, nada se cria,
nada se perde, tudo fica na mesma.” Porque o que acontece em Portugal, e
voltemos aos livros e à literatura, é que as obras literárias não se discutem
verdadeiramente, nem mesmo nos meios literários. Por isso um livro é escrito,
publicado e nada acontece. Pelo menos na maior parte das vezes.
Quando falo em discutir um livro,
falo em entrar em diálogo com esse livro, questioná-lo, afirmá-lo ou negá-lo, e
não apenas soltar um lacónico “gostei” ou “não gostei”. Porque em Portugal
normalmente critica-se mas não se discute, apenas se louva ou se denigre, quase
sempre de forma lacónica. Espero caro leitor, não ter caído também eu nesse
erro, porque, como diria um velho amigo, não sou pessimista nem optimista,
antes pelo contrário.
De referir que os excertos
citados foram retirados de entrevistas realizadas pelo jornalista Paulo Moura,
que podem ser encontradas com facilidade na internet.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Meditação
Inspiras e expiras, vives. Amor e dor entram e saem, é isto a vida. Por mais que tentes, nunca conseguirás inspirar apenas amor e expirar apenas dor.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
AFORRISMOS - #jaalguemdeveterditoisto
Há
os que têm tudo e nunca têm nada e os que têm sempre tudo mesmo
quando nada têm.
O
bode expiatório tem as costas largas.
Tentar
fazer já é fazer. Quanto mais tentas mais fazes.
Saber
ouvir (os outros e a nós mesmos) é pura sabedoria.
A
sabedoria pode ser muda, mas nunca é surda.
Nada
tem sentido, somos nós que conferimos sentido a tudo.
A
vida é, basicamente, como diria a minha filha, amar e sofrer.
Escrever
é a minha forma de estar calado.
O
que nos define é o modo como lidamos com as nossas limitações.
Acredito
tanto mais em mim quanto mais duvido de mim.
Quando
falamos mal dos outros é quase sempre de nós que falamos.
Se
queres parecer inteligente, cala-te.
Bizarro
quantas vezes se nega o amor em nome do amor!
A
escrita é uma rede que tudo captura e tudo deixa escapar.
Talvez
a verdade seja uma ilusão, mas a sua procura é bem real.
Raramente
me zango com quem quer que seja, fico apenas triste e desiludido.
Quanto
maior é a intensidade com que vivemos maior é o controlo que
necessitamos e menor é o controlo que temos.
Se
queres que te ouçam, experimenta calar-te.
Existe
a maré alta e a maré baixa, mas o mar é só um.
Fazer
com que as pequenas preocupações se tornem grandes é a forma mais
comum de nos preocuparmos.
O
mais sério que podes ser/fazer é não te levares (demasiado) a
sério.
Se
não duvidas, nem por um momento, de estar certo, já estás errado.
Só
há uma única forma de fazer e é fazendo. Tentando, errando e
persistindo.
Não
sou nem tão sábio nem tão tolo quanto precisaria para conhecer a
serenidade.
Quando,
numa relação, um nunca tem razão, a razão só pode ser o outro.
Prefiro
os sábios aos cultos. Os sábios podem não ser cultos, mas nunca
serão idiotas. Já os idiotas, muitos são cultos.
A
verdade seria muitas vezes óbvia e acessível, não a julgássemos
nós quase sempre obscura e inacessível.
Não
te esforces, nunca te esforces, limita-te a fazer.
Não
há escritores menores, há apenas escritores baixos.
Se
já perdeste a guerra, porque ainda travas batalhas?
Nunca
se é culpado desde que se seja responsável (ou não).
Sou
como sou, o que quer que isso seja.
Ser
livre é (ser capaz de) escolher a que (ou a quem) servir.
Para
que exista um diálogo é preciso que todos estejam disponíveis para
ouvir. Se tal não acontecer, estou fora. Se então me acusarem de
não estar disposto a ouvir, é porque não estou mesmo.
Talvez
ser menos seja ser mais.
Estar
concentrado não é ser menos, é ser mais.
Gostar
ou não gostar, eis o Facebook.
Age
como tiveres de agir que eu agirei como tiver de agir. Sem
ressentimentos.
A
verdadeira força é fazer das fraquezas força.
Queres
ser compreendido/a? Talvez devas começar por tentar compreender os
outros!
Persisto
porque é da minha natureza persistir, ou sou assim apenas porque
persisto?
Ter
uma imagem de si mesmo melhor do que aquela que os outros têm de si,
não só é normal como também é necessário.
O
mais importante é quase invisível. Podes pressenti-lo mas não
podes vê-lo.
Não
procures fora de ti o que só dentro de ti existe.
Não
sabermos quem somos é sermos. Ser é sempre estar à procura.
Cada
vez mais me preocupo menos com o que não é importante.
Pior
que ser parvo é não saber que se é parvo.
Ser
ridículo é inevitável quando se é humano, mas mais vale ser do
que parecer.
Cala-te
com frequência, não só ouvirás mais como a vida te correrá
melhor.
Somos
tão bons a criar regras como a criar excepções.
Umas
vezes é preciso encher a taça, outras vezes é preciso esvaziá-la.
Enganar
os outros é fácil, difícil é ser honesto.
Não
acreditas em ti porque existes, a verdade é que existes porque
acreditas em ti. Acredita em ti.
Os
defeitos e as virtudes têm muito menos importância em si mesmos do
que o modo como os encaramos e usamos.
Ao
amor não interessa se é correspondido ou quanto tempo dura, ao amor
basta-lhe existir.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
Em legítima defesa
Sei hoje que ninguém antes de ti
morreu profundamente para mim
Aos outros foi possível ocultá-los
na sua irredutível posição horizontal
sob a capa da terra maternal
Choramo-los imóveis e voltamos
à nossa irrequieta condição de vivos
Arrumamos os mortos e ungimo-los
São uma instituição que respeitamos
e às vezes lembramos celebramos
nos fatos que envergamos de propósito
nas lágrimas nos gestos nas gravatas
com flores e nas datas num horário
que apenas os mate o estritamente necessário
mas decerto de acordo com um prévio plano
tu não só me mataste como destruíste
as ruas os lugares onde cruzámos
os nossos olhos feitos para ver
não tanto as coisas como o nosso próprio ser
A cidade é a mesma e no entanto
há portas que não posso atravessar
sítios que me seria doloroso outra vez visitar
onde mais viva que antes tenho medo de encontrar-te
Morreste mais que todos os meus mortos
pois esses arrumei-os festejei-os
enquanto a ti preciso de matar-te
dentro do coração continuamente
pois prossegues de pé sobre este solo
onde um por um perigo os meus fantasmas
e tu és o maior de todos eles
não suporto que nada haja mudado
que nem sequer o mais elementar dos rituais
pelo menos marcasse em tua vida o antes e o depois
forma rudimentar de morte e afinal morte
que por não teres morrido muito mais tenhas morrido
Se todos os demais morreram de uma morte de que vivo
tu matas-me não só rua por rua
nalguma qualquer esquina a qualquer hora
como coisa por coisa dessas coisas que subsistem
vivas mais que na vida vivas na imaginação
onde só afinal as coisas são
Ninguém morreu assim como morreste
pois se houvesse morrido tudo estava resolvido
Os outros estão mortos porque o estão
Só tu morreste tanto que não tens ressurreição
pois vives tanto em mim como em qualquer lugar
onde antes te encontrava e te possa encontrar
e ver-te vir como quem voa ao caminhar
Todos eram mortais e tu morreste e vives sempre mais
morreu profundamente para mim
Aos outros foi possível ocultá-los
na sua irredutível posição horizontal
sob a capa da terra maternal
Choramo-los imóveis e voltamos
à nossa irrequieta condição de vivos
Arrumamos os mortos e ungimo-los
São uma instituição que respeitamos
e às vezes lembramos celebramos
nos fatos que envergamos de propósito
nas lágrimas nos gestos nas gravatas
com flores e nas datas num horário
que apenas os mate o estritamente necessário
mas decerto de acordo com um prévio plano
tu não só me mataste como destruíste
as ruas os lugares onde cruzámos
os nossos olhos feitos para ver
não tanto as coisas como o nosso próprio ser
A cidade é a mesma e no entanto
há portas que não posso atravessar
sítios que me seria doloroso outra vez visitar
onde mais viva que antes tenho medo de encontrar-te
Morreste mais que todos os meus mortos
pois esses arrumei-os festejei-os
enquanto a ti preciso de matar-te
dentro do coração continuamente
pois prossegues de pé sobre este solo
onde um por um perigo os meus fantasmas
e tu és o maior de todos eles
não suporto que nada haja mudado
que nem sequer o mais elementar dos rituais
pelo menos marcasse em tua vida o antes e o depois
forma rudimentar de morte e afinal morte
que por não teres morrido muito mais tenhas morrido
Se todos os demais morreram de uma morte de que vivo
tu matas-me não só rua por rua
nalguma qualquer esquina a qualquer hora
como coisa por coisa dessas coisas que subsistem
vivas mais que na vida vivas na imaginação
onde só afinal as coisas são
Ninguém morreu assim como morreste
pois se houvesse morrido tudo estava resolvido
Os outros estão mortos porque o estão
Só tu morreste tanto que não tens ressurreição
pois vives tanto em mim como em qualquer lugar
onde antes te encontrava e te possa encontrar
e ver-te vir como quem voa ao caminhar
Todos eram mortais e tu morreste e vives sempre mais
Ruy Belo
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