O Valter diz:
"Poder-se-á dizer que haverá escritores em Faro que estão desempregados, talvez, mas neste momento não creio que os haja também", diz o Pedro Afonso. Eu acrescentaria uma acha mais à fogueira: em Faro existem certamente muitos escritores desempregados à busca do primeiro emprego!
Isto leva-me a tecer a seguinte consideração acerca do "ser-se ou não escritor, eis a questão": o importante, no fundo, é escrever (e ler antes de escrever e escrever depois de ler...); aliás, escrevermo-nos continuamente, para irmos descobrindo a nossa voz, a nossa identidade - que porventura será o feito mais difícil de conseguir nesta coisa da escrita... o ser-se publicado ou não... bem, cada vez é mais fácil ser-se publicado, basta pagar - há umas quantas editoras "especializadas" neste tipo de edição... mas terá uma edição um efeito de, digamos, upgrade qualitativo na obra de um escritor? Creio que não. Aliás, o conceito de qualidade varia de pessoa para pessoa e de época para época... Aliás, na primeira aula de "Estudos literários", o prof. Paulo Pereira fez uma pergunta a que não sei responder nem ninguém ma respondeu durante toda a frequência do curso: "o que é isso da literatura?"...
Quando leio o Pedro a dizer que em Faro não há uma vivência artística por não haver sequer uma cena artística, lembro-me de uma coisa que costumo dizer: "as cidades são as pessoas", o que vai dar mais ou menos à mesma coisa se disser que "as cenas são as pessoas (que as fazem)". Não tenho dúvidas que em Faro (e arredores - sendo que os arredores de Faro têm necessariamente de ser todo o Algarve, não fosse esta a sua capital...) existe muita qualidade, não só ao nível da escrita, como da música, das artes plásticas, das artes performativas etc. E as pessoas existem, estão aí, e se estão as pessoas estão também as obras - feitas ou por fazer... Acima de tudo, o que noto é que há uma grande falta de vontade (por vergonha? por pessimismo? por falta de auto-estima?) em reunir essas pessoas... a malta prefere os copos à arte, esquecendo-se de que a combinação da arte com a boémia pode dar coisas muito bonitas... Foi o esse o motivo principal da abertura de um sítio como o DRACULEA, mas... "as cidades são as pessoas" e as pessoas em Faro não querem nada mais para além do que é fácil e do que já está implementado. É fácil ouvir e criticar; o complicado (mas que é "d'homem"...) é falar e ter estofo para ser-se criticado...
P.S.: discussão boa esta que se gerou aqui no blog do Luís... só falta uma coisa: pessoas... entendem-me?