quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ARRITMIA


Dizes-me que o que escrevo não é poesia:
não tem ritmo não tem rima não tem alegria.
respondo-te assim: então não é poesia? A
puta da tua tia! Que eu sinto-a em mim e
sei muito bem o que é e o que não é.

[…]

Estás a ouvir?
As palavras dizem sempre mais do
que dizem quando ecoam em nós.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

WORK IN PROGRESS


queria muito viver
por isso se matou

[…]

É muito pouco?
É preciso dizer mais?
Mas são sete palavras!
Dizer mais é não só inútil
mas contra-indicado.
Não tenho razão?
Pronto, está bem,
eu continuo.

[…]

Ninguém se mata
porque quer morrer.
As pessoas matam-se
porque querem viver.

[…]

Está melhor assim?

terça-feira, 27 de setembro de 2011

intrigante


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há vida depois da blogosfera?

Estarão os blogues portugueses moribundos ou ainda há esperança?

QUERER


Desconheço
as razões porque
quero o que
quero mas
isso nunca me
impediu de
crer.

O que eu quero
é apenas a medida
do meu fracasso.

Queria que este
poema acabasse
[aqui]
mas sei que
continuará
em ti.

sábado, 24 de setembro de 2011

PRONTA A SERVIR


A verdade,
tal como a vida,
é uma maça cortada
ao meio.
Há o que fazemos
da vida.
Há o que a vida
faz de nós.
Esta é a única verdade
apesar de ser
em duas

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

MANIFEITO

não digam que a arte não alimenta
não digam que arte não não abriga
não digam que a arte é inútil
nem para a enaltecer
nem para a desprezar

alimentem-se de arte,
da vossa e a da dos outros
façam da arte a vossa casa
e o vosso porto de abrigo
de onde partem e chegam

a verdade é que inútil é
a própria ideia
de utilidade
a arte é tão inútil
como o ser

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O PRIMEIRO POEMA

Não foi o primeiro poema que escrevi, mas foi um dos primeiros, e ontem, para minha surpresa, foi-me dito na esplanada do Maktostas.

EU

Em mim existem
sempre
dois lados
que se afirmam
e se negam.
E com tal intensidade
o fazem
que muitas vezes
acredito ser eu
apenas o
vazio que
os separa

[Poema Poema, Antologia de Poesia Portuguesa Actual, Aullido, Revista de Poesia, 15]

Curiosamente, num poema tão curto como este, ainda hoje tenho dúvidas se não deveria excluir a palavra "sempre" da segunda linha e a palavra eu da frase "acredito ser eu". Às vezes penso que sim e outras que penso que não, mas o poema é esse e não lhe vou mexer.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

Em mim reconheço amor

e ódio

mas não sou amor

nem ódio



Em mim reconheço alegria

e tristeza

mas não sou alegria

nem tristeza



Em mim reconheço inquietação

e serenidade

mas não sou inquietação

nem serenidade



Não sou tudo

o que em mim

reconheço



mas também

não deixo de

o ser



é tudo o que sei

é tudo o que sou

terça-feira, 20 de setembro de 2011

CIRCULO QUASE PERFEITO


Escrevo e escrevo e escrevo
mas não escrevo de forma automática

Escrevo e escrevo e escrevo sem pensar
mas não sou uma máquina de escrever poética

Escrevo e escrevo e escrevo
mas é a mão que escreve
e escreve e escreve

a mão com que
escrevo e escrevo e escrevo
[mesmo quando escrevo ao computador]

domingo, 18 de setembro de 2011

EXPLICAÇÃO

Pergunta:
O universo é desigual e harmonioso,
equilibrado nos seus contrastes e contradições,
ou será que somos nós que o acreditamos assim,
na nossa dualidade irredutivel de não sermos capazes
de dar unidade ao que só pode ser uno?

 Resposta:
O poema não é diferente.
A harmonia só é possível na des
igualdade.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ARTE POÉTICA

{poema com destinatário}

Deixa-me que te diga
antes que me esqueça
escrever um poema é sempre
tropeçar sem nunca ver
dadeiramente cair.

Todos os poemas se
escrevem a vermelho mas
são tanto melhores quanto
mais brancos.

A poesia está sempre mais
além mesmo quando
está AQUI.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

APONTAMENTO

Olho

a mulher

que avança

à minha frente num

perfeito balancear

de ancas e de

nádegas



e digo

a mim mesmo

que não é por acaso

que a ideia de equilíbrio

me é tão querida e tão

próxima da ideia

de beleza

OUVE-ME

Voltei a publicar aqui.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

DIZER O AZUL


Digo-te que o azul é a minha cor preferida,
é a cor dos meus sonhos mais cinzentos,
é a cor dos meus olhos castanhos.

Perguntas-me o que quero dizer com isso.
Respondo-te que não sou sou capaz de dizê-lo.

É exactamente por isso que o digo.
É exactamente por isso que o escrevo.

Cruzeiro Seixas

 Ouvir.