Nada é simples quando se trata de palavras.
Quando se trata de palavras até a palavra simples é complicada.
um blog de Luís Ene
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Fado
Durante o dia, andava sempre de óculos escuros.
À noite, acendia todas as luzes do apartamento.
Quando a morte o levou, ainda estava vivo.
Nunca foi capaz de aceitar o inevitável.
À noite, acendia todas as luzes do apartamento.
Quando a morte o levou, ainda estava vivo.
Nunca foi capaz de aceitar o inevitável.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
O espírito da concisão
60 palavras
Esforçava-se muito por ser conciso, mas ficava sempre com a sensação que dizia de mais ou de menos, e nunca o estritamente necessário. Com o tempo percebeu que ser conciso é algo que diz respeito ao outro, e não é tanto o que dizemos, como o que lhe deixamos para dizer. A partir daí foi-lhe muito mais fácil ser conciso.
49 palavras
Dizia sempre de mais ou de menos, e nunca o estritamente necessário. Com o tempo percebeu que a concisão era algo que dizia respeito ao outro, e não era tanto o que dizia, como o que deixava para ser dito. A partir daí foi-lhe muito mais fácil ser conciso.
36 palavras
Dizia sempre de mais ou de menos; mas com o tempo percebeu que não era tanto o que dizia, como o que deixava para os outros dizerem. A partir daí foi-lhe muito mais fácil ser conciso.
30 palavras
Com o tempo percebeu que o importante não é tanto o que se diz como o que se deixa para os outros dizerem. A partir daí foi-lhe fácil ser conciso.
20 palavras
Só alcançou a desejada concisão quando percebeu finalmente que o importante é o que se deixa para os outros dizerem.
in minguante n.º 1
Esforçava-se muito por ser conciso, mas ficava sempre com a sensação que dizia de mais ou de menos, e nunca o estritamente necessário. Com o tempo percebeu que ser conciso é algo que diz respeito ao outro, e não é tanto o que dizemos, como o que lhe deixamos para dizer. A partir daí foi-lhe muito mais fácil ser conciso.
49 palavras
Dizia sempre de mais ou de menos, e nunca o estritamente necessário. Com o tempo percebeu que a concisão era algo que dizia respeito ao outro, e não era tanto o que dizia, como o que deixava para ser dito. A partir daí foi-lhe muito mais fácil ser conciso.
36 palavras
Dizia sempre de mais ou de menos; mas com o tempo percebeu que não era tanto o que dizia, como o que deixava para os outros dizerem. A partir daí foi-lhe muito mais fácil ser conciso.
30 palavras
Com o tempo percebeu que o importante não é tanto o que se diz como o que se deixa para os outros dizerem. A partir daí foi-lhe fácil ser conciso.
20 palavras
Só alcançou a desejada concisão quando percebeu finalmente que o importante é o que se deixa para os outros dizerem.
in minguante n.º 1
terça-feira, 28 de abril de 2009
paragem de pensamento
[…]
as plantas
também
sofrem mas
não sofrem
inutilmente
crescem
em solos
impossíveis
pensam
sempre
verde
nunca
perdem
o tino
as plantas
também
sofrem mas
não sofrem
inutilmente
crescem
em solos
impossíveis
pensam
sempre
verde
nunca
perdem
o tino
segunda-feira, 27 de abril de 2009
domingo, 26 de abril de 2009
não nos conhecíamos:
éramos onze à mesa ao jantar
homens e mulheres com
mais de quarenta anos
num dia 25 de Abril de
um outro ano qualquer:
tínhamos sido apresentados
sabíamos o que fazíamos onde vivíamos
pouco mais ou menos:
bebemos rimos comemos falámos
trocámos elogios galanteios ironias
e contámos histórias
muitas histórias
de uns e de outros
tempos:
ainda estou à mesa com vocês
ainda estou surpreendido feliz
ainda não sei explicar porquê:
[Luís Ene]
sábado, 25 de abril de 2009
sexta-feira, 24 de abril de 2009
O POETA É UM FINGIDOR
Não percebiam o que ele escrevia, mas sentiam que era algo enorme, importante, algo que deveriam perceber, e então atribuíam-lhe prémios, muitos prémios, e ele ria-se e ria-se e ria-se e continuava a concorrer e a ganhar prémios, todos os prémios a que concorria mas, verdade seja dita, só concorria quando lhe faltava o dinheiro.
Luís Ene
Não percebiam o que ele escrevia, mas sentiam que era algo enorme, importante, algo que deveriam perceber, e então atribuíam-lhe prémios, muitos prémios, e ele ria-se e ria-se e ria-se e continuava a concorrer e a ganhar prémios, todos os prémios a que concorria mas, verdade seja dita, só concorria quando lhe faltava o dinheiro.
Luís Ene
quinta-feira, 23 de abril de 2009
rua do imaginario 24 de Abril
Amanhã, sexta-feira, a partir das 19 horas, Rua do imaginário continua com Rui Costa. Será lido o poema Faca de Incêndio, constituído por onze fragmentos, e será tentada entrevista telefónica com o autor. Para saber como ouvir o programa, leia a coluna da direita.
terça-feira, 21 de abril de 2009
subtilezas enganadoras
Talvez a única verdadeira diferença
entre um bom e um mau escritor
seja que o primeiro
deve ser lido
e o segundo
evitado.
Mas não é igualmente verdade
que aprendemos
sobretudo
com os erros
e que tudo o que é belo
está sempre
completamente
errado?
entre um bom e um mau escritor
seja que o primeiro
deve ser lido
e o segundo
evitado.
Mas não é igualmente verdade
que aprendemos
sobretudo
com os erros
e que tudo o que é belo
está sempre
completamente
errado?
sábado, 18 de abril de 2009
Masculino/feminino: doze poemas de amor
Décimo
I
Ele gostava de vinho tinto e de jazz e ela detestava ambos, mas apaixonaram-se um pelo outro e casaram-se. Com o tempo ela passou a gostar de jazz e de vinho, mas passou a detestá-lo a ele.
II
Ela gostava de vinho branco e de rock e ele detestava ambos, mas apaixonaram-se um pelo outro e casaram-se. Com o tempo ele passou a gostar de rock e de vinho branco, mas passou a detestá-la a ela.
I
Ele gostava de vinho tinto e de jazz e ela detestava ambos, mas apaixonaram-se um pelo outro e casaram-se. Com o tempo ela passou a gostar de jazz e de vinho, mas passou a detestá-lo a ele.
II
Ela gostava de vinho branco e de rock e ele detestava ambos, mas apaixonaram-se um pelo outro e casaram-se. Com o tempo ele passou a gostar de rock e de vinho branco, mas passou a detestá-la a ela.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
a aranha e o homem
A aranha teceu a sua teia, pouco a pouco, com todo o vagar; pacientemente, disse o homem que a observava, mas a verdade é que a aranha não era paciente, fazia apenas o que tinha a fazer, pouco a pouco, que não há outra maneira de fazer as coisas.
[Devagar ou depressa, com pressa ou com vagar, é sempre pouco a pouco que se fazem as coisas.]
[Devagar ou depressa, com pressa ou com vagar, é sempre pouco a pouco que se fazem as coisas.]
quarta-feira, 15 de abril de 2009
o sábio e o idiota
O sábio apontou para longe e o idiota, como sempre, olhou para o dedo esticado e para a unha suja e mal tratada. Decidiu-se finalmente e arrastou o sábio até à manicura mais próxima, indiferente aos seus protestos. A partir daí, quando o sábio olhava para longe, o idiota olhava para o dedo esticado e para a unha limpa e bem tratada.
[A moral desta história é simples: até os sábios são capazes de actos idiotas e os idiotas de actos sábios.]
[A moral desta história é simples: até os sábios são capazes de actos idiotas e os idiotas de actos sábios.]
terça-feira, 14 de abril de 2009
domingo, 12 de abril de 2009
sábado, 11 de abril de 2009
sexta-feira, 10 de abril de 2009
rua do imaginário: 10 de Abril de 2009
Daqui a pouco, se tudo correr bem, e como antecipado em entradas anteriores deste blogue, lerei alguns poemas (ou não poemas) que escrevi por estes dias.
A música, essa, será variada, dentro do que é aquilo que é habitual na Rua do Imaginário e, tal como os textos, respirará profundamente: Archie Shepp (Don’t you Know I Care), Win Mertens (The Fosse); Shostakovich (Jazz Suite N.º1); Charles Mingus (Jelly Roll, Fables of Fabus); José Peixoto; Desert Blues…
Até já...
A música, essa, será variada, dentro do que é aquilo que é habitual na Rua do Imaginário e, tal como os textos, respirará profundamente: Archie Shepp (Don’t you Know I Care), Win Mertens (The Fosse); Shostakovich (Jazz Suite N.º1); Charles Mingus (Jelly Roll, Fables of Fabus); José Peixoto; Desert Blues…
Até já...
masculino/feminino: poemas de amor
segundo
I
Amo-te muito, disse ela, e ele assentiu com a cabeça, ao mesmo tempo que dizia a si mesmo que esse é que era o problema.
II
Amo-te muito, disse ele, e ela assentiu com a cabeça, ao mesmo tempo que dizia a si mesma que esse é que era o problema.
[hoje, na Rua do Imaginário (veja aqui ao lado, na barra lateral), lerei este e outros poemas desta série]
I
Amo-te muito, disse ela, e ele assentiu com a cabeça, ao mesmo tempo que dizia a si mesmo que esse é que era o problema.
II
Amo-te muito, disse ele, e ela assentiu com a cabeça, ao mesmo tempo que dizia a si mesma que esse é que era o problema.
[hoje, na Rua do Imaginário (veja aqui ao lado, na barra lateral), lerei este e outros poemas desta série]
quinta-feira, 9 de abril de 2009
quarta-feira, 8 de abril de 2009
masculino/feminino: poemas de amor
Primeiro
I
Fazes-me sentir mal, disse ela, e ele olhou-a nos olhos, mas nada disse: sabia que assim era, mas também sabia que nada podia fazer para alterar a situação.
II
Fazes-me sentir mal, disse ele, e ela olhou-o nos olhos, mas nada disse: sabia que assim era, mas também sabia que nada podia fazer para alterar a situação.
[próxima sexta-feira, na Rua do Imaginário (veja aqui ao lado, na barra lateral), lerei este e outros poemas desta série]
I
Fazes-me sentir mal, disse ela, e ele olhou-a nos olhos, mas nada disse: sabia que assim era, mas também sabia que nada podia fazer para alterar a situação.
II
Fazes-me sentir mal, disse ele, e ela olhou-o nos olhos, mas nada disse: sabia que assim era, mas também sabia que nada podia fazer para alterar a situação.
[próxima sexta-feira, na Rua do Imaginário (veja aqui ao lado, na barra lateral), lerei este e outros poemas desta série]
in memoriam
vidasdevidas é um projecto literário que se enquadra no que é habitualmente designado como minificção. São histórias que, à laia de epitáfios, resumem em poucas palavras toda uma vida (ou toda uma pessoa) e que se foram somando sem ordem aparente. São também textos de onde sobretudo se parte.
A história apresentada no ecrã de abertura é a última publicada. As anteriores poderão ser lidas de forma aleatória.
aqui
A história apresentada no ecrã de abertura é a última publicada. As anteriores poderão ser lidas de forma aleatória.
aqui
terça-feira, 7 de abril de 2009
segunda-feira, 6 de abril de 2009
domingo, 5 de abril de 2009
pessoas e seres digitais
A propósito do comentário do Daniel, com o qual, quem me conhece, ainda que pelos blogues, sabe que concordo a 100%.
escusado será dizer que sou o da esquerda (de quem olha para a câmara).
escusado será dizer que sou o da esquerda (de quem olha para a câmara).
sábado, 4 de abril de 2009
[em construção]
sexta-feira, 3 de abril de 2009
programa de 3 de Abril de 2009
Hoje, no horário e no local habitual, a leitura de poemas de Sobre O Lado Esquerdo, de Carlos de Oliveira... e música, muita música, para que as palavras e os sons respirem melhor...
quinta-feira, 2 de abril de 2009
podcast(es)
Pois é, os seis programas de uma série concebida como um todo e com uma intenção artística... podem ser ouvidos aqui :)
As Time Goes By
Encontraram-se ao lusco-fusco, amaram-se à média luz, separaram-se ao raiar do dia.
[Enquanto a Laura acaba os brigadeiros]
[Enquanto a Laura acaba os brigadeiros]
quarta-feira, 1 de abril de 2009
poesia em acção
Uma trinca-espinhas e um espirra-canivetes apaixonaram-se e tiveram dois filhos, uma trinca-canivetes e um espirra-espinhas.
[em viagem, com a Laura]
[em viagem, com a Laura]
em construção
[para a Paula]
Medo __ pois é __ o medo
Se o céu tivesse medo
Nunca rebentaria em azul
E nunca mas nunca
As nuvens nele escreveriam
Os seus poemas
Medo __ pois é __ o medo
Se o mar tivesse medo
Nunca beijaria a terra
Sabendo de cada vez
Que nunca mas nunca
Ela será sua
Medo __ pois é __ o medo
Não tenhas medo
Deixa que te ame
Não me afastes
O medo é
O teu maior inimigo
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