quinta-feira, 30 de abril de 2009

NÃO EXISTEM BECOS SEM SAÍDA.

Fado

Durante o dia, andava sempre de óculos escuros.
À noite, acendia todas as luzes do apartamento.
Quando a morte o levou, ainda estava vivo.
Nunca foi capaz de aceitar o inevitável.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O espírito da concisão

60 palavras
Esforçava-se muito por ser conciso, mas ficava sempre com a sensação que dizia de mais ou de menos, e nunca o estritamente necessário. Com o tempo percebeu que ser conciso é algo que diz respeito ao outro, e não é tanto o que dizemos, como o que lhe deixamos para dizer. A partir daí foi-lhe muito mais fácil ser conciso.

49 palavras
Dizia sempre de mais ou de menos, e nunca o estritamente necessário. Com o tempo percebeu que a concisão era algo que dizia respeito ao outro, e não era tanto o que dizia, como o que deixava para ser dito. A partir daí foi-lhe muito mais fácil ser conciso.

36 palavras
Dizia sempre de mais ou de menos; mas com o tempo percebeu que não era tanto o que dizia, como o que deixava para os outros dizerem. A partir daí foi-lhe muito mais fácil ser conciso.

30 palavras
Com o tempo percebeu que o importante não é tanto o que se diz como o que se deixa para os outros dizerem. A partir daí foi-lhe fácil ser conciso.

20 palavras
Só alcançou a desejada concisão quando percebeu finalmente que o importante é o que se deixa para os outros dizerem.

in minguante n.º 1

terça-feira, 28 de abril de 2009

paragem de pensamento

[…]

as plantas
também
sofrem mas
não sofrem
inutilmente

crescem
em solos
impossíveis

pensam
sempre
verde

nunca
perdem
o tino

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Não existem bons e maus escritores, existem apenas escritores que sabem esconder na perfeição os seus erros e os outros, que não sabem fazê-lo tão bem. E, claro, existem também aqueles que não são escritores, ainda que digam sê-lo.

Luís Ene

domingo, 26 de abril de 2009

não nos conhecíamos:




éramos onze à mesa ao jantar
homens e mulheres com
mais de quarenta anos
num dia 25 de Abril de
um outro ano qualquer:
tínhamos sido apresentados
sabíamos o que fazíamos onde vivíamos
pouco mais ou menos:
bebemos rimos comemos falámos
trocámos elogios galanteios ironias
e contámos histórias
muitas histórias
de uns e de outros
tempos:
ainda estou à mesa com vocês
ainda estou surpreendido feliz
ainda não sei explicar porquê:


[Luís Ene]

sábado, 25 de abril de 2009

DIZIA O ESCRITOR


Não escrevo o que me apetece nem escrevo quando me apetece. É isso que faz de mim escritor.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

25 baril

O POETA É UM FINGIDOR

Não percebiam o que ele escrevia, mas sentiam que era algo enorme, importante, algo que deveriam perceber, e então atribuíam-lhe prémios, muitos prémios, e ele ria-se e ria-se e ria-se e continuava a concorrer e a ganhar prémios, todos os prémios a que concorria mas, verdade seja dita, só concorria quando lhe faltava o dinheiro.

Luís Ene

quinta-feira, 23 de abril de 2009

rua do imaginario 24 de Abril

Amanhã, sexta-feira, a partir das 19 horas, Rua do imaginário continua com Rui Costa. Será lido o poema Faca de Incêndio, constituído por onze fragmentos, e será tentada entrevista telefónica com o autor. Para saber como ouvir o programa, leia a coluna da direita.

terça-feira, 21 de abril de 2009

subtilezas enganadoras

Talvez a única verdadeira diferença
entre um bom e um mau escritor
seja que o primeiro
deve ser lido
e o segundo
evitado.


Mas não é igualmente verdade
que aprendemos
sobretudo
com os erros
e que tudo o que é belo
está sempre
completamente
errado?

sábado, 18 de abril de 2009

Masculino/feminino: doze poemas de amor

Décimo


I

Ele gostava de vinho tinto e de jazz e ela detestava ambos, mas apaixonaram-se um pelo outro e casaram-se. Com o tempo ela passou a gostar de jazz e de vinho, mas passou a detestá-lo a ele.


II

Ela gostava de vinho branco e de rock e ele detestava ambos, mas apaixonaram-se um pelo outro e casaram-se. Com o tempo ele passou a gostar de rock e de vinho branco, mas passou a detestá-la a ela.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

a aranha e o homem

A aranha teceu a sua teia, pouco a pouco, com todo o vagar; pacientemente, disse o homem que a observava, mas a verdade é que a aranha não era paciente, fazia apenas o que tinha a fazer, pouco a pouco, que não há outra maneira de fazer as coisas.

[Devagar ou depressa, com pressa ou com vagar, é sempre pouco a pouco que se fazem as coisas.]

a ler na próxima sexta-feira na rua do imaginário

quarta-feira, 15 de abril de 2009

o sábio e o idiota

O sábio apontou para longe e o idiota, como sempre, olhou para o dedo esticado e para a unha suja e mal tratada. Decidiu-se finalmente e arrastou o sábio até à manicura mais próxima, indiferente aos seus protestos. A partir daí, quando o sábio olhava para longe, o idiota olhava para o dedo esticado e para a unha limpa e bem tratada.

[A moral desta história é simples: até os sábios são capazes de actos idiotas e os idiotas de actos sábios.]

sexta-feira, 10 de abril de 2009

rua do imaginário: 10 de Abril de 2009

Daqui a pouco, se tudo correr bem, e como antecipado em entradas anteriores deste blogue, lerei alguns poemas (ou não poemas) que escrevi por estes dias.

A música, essa, será variada, dentro do que é aquilo que é habitual na Rua do Imaginário e, tal como os textos, respirará profundamente: Archie Shepp (Don’t you Know I Care), Win Mertens (The Fosse); Shostakovich (Jazz Suite N.º1); Charles Mingus (Jelly Roll, Fables of Fabus); José Peixoto; Desert Blues…

Até já...

in memoriam

Ficha Técnica
BLOGS
Autores: Paulo Querido e Luís Ene
Editor: Centro Atlântico
1ª Edição, Outubro de 2003
152 páginas
ISBN: 972-8426-75-5

masculino/feminino: poemas de amor

segundo

I

Amo-te muito, disse ela, e ele assentiu com a cabeça, ao mesmo tempo que dizia a si mesmo que esse é que era o problema.

II

Amo-te muito, disse ele, e ela assentiu com a cabeça, ao mesmo tempo que dizia a si mesma que esse é que era o problema.


[hoje, na Rua do Imaginário (veja aqui ao lado, na barra lateral), lerei este e outros poemas desta série]

quarta-feira, 8 de abril de 2009

masculino/feminino: poemas de amor

Primeiro

I

Fazes-me sentir mal, disse ela, e ele olhou-a nos olhos, mas nada disse: sabia que assim era, mas também sabia que nada podia fazer para alterar a situação.

II

Fazes-me sentir mal, disse ele, e ela olhou-o nos olhos, mas nada disse: sabia que assim era, mas também sabia que nada podia fazer para alterar a situação.

[próxima sexta-feira, na Rua do Imaginário (veja aqui ao lado, na barra lateral), lerei este e outros poemas desta série]

ainda a propósito de pessoas e seres digitais

aqui

in memoriam

vidasdevidas é um projecto literário que se enquadra no que é habitualmente designado como minificção. São histórias que, à laia de epitáfios, resumem em poucas palavras toda uma vida (ou toda uma pessoa) e que se foram somando sem ordem aparente. São também textos de onde sobretudo se parte.

A história apresentada no ecrã de abertura é a última publicada. As anteriores poderão ser lidas de forma aleatória.


aqui

domingo, 5 de abril de 2009

pessoas e seres digitais

A propósito do comentário do Daniel, com o qual, quem me conhece, ainda que pelos blogues, sabe que concordo a 100%.



escusado será dizer que sou o da esquerda (de quem olha para a câmara).

sábado, 4 de abril de 2009

[em construção]




penso-sinto-pressinto que

o que de ti me aproxima
é o mesmo que
de mim te afasta

mas não será esta afinal
a natureza própria
do amor?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

ouçam...



programa de 3 de Abril de 2009

Hoje, no horário e no local habitual, a leitura de poemas de Sobre O Lado Esquerdo, de Carlos de Oliveira... e música, muita música, para que as palavras e os sons respirem melhor...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

sem palavras

podcast(es)

Pois é, os seis programas de uma série concebida como um todo e com uma intenção artística... podem ser ouvidos aqui :)

As Time Goes By

Encontraram-se ao lusco-fusco, amaram-se à média luz, separaram-se ao raiar do dia.

[Enquanto a Laura acaba os brigadeiros]

quarta-feira, 1 de abril de 2009

poesia em acção

Uma trinca-espinhas e um espirra-canivetes apaixonaram-se e tiveram dois filhos, uma trinca-canivetes e um espirra-espinhas.

[em viagem, com a Laura]

em construção




[para a Paula]



Medo __ pois é __ o medo

Se o céu tivesse medo
Nunca rebentaria em azul
E nunca mas nunca
As nuvens nele escreveriam
Os seus poemas

Medo __ pois é __ o medo

Se o mar tivesse medo
Nunca beijaria a terra
Sabendo de cada vez
Que nunca mas nunca
Ela será sua

Medo __ pois é __ o medo

Não tenhas medo
Deixa que te ame
Não me afastes
O medo é
O teu maior inimigo

Cruzeiro Seixas

 Ouvir.