Nada é simples quando se trata de palavras.
Quando se trata de palavras até a palavra simples é complicada.
um blog de Luís Ene
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
A verdade do poema
não sejas arrogante:
o mundo não existe
só porque tu existes
não te finjas modesto:
o mundo manifesta-se
só em ti e para ti
não temas a verdade:
o mundo que em ti se diz
só tu podes dizê-lo
não digas demasiado:
deixa que o poema
se diga e te diga
[Gosto de poemas de inspiração filosófica, poemas que se interrogam, poemas que nos interrogam e interrogam o mundo. Gosto mais de perguntas do que de respostas.]
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
a literatura aprende-se, a literatura ensina-se?
O talento não se ensina, o talento revela-se. Escreve-se, escrevendo. Um artigo interessante e que levanta pistas.
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
domingo, 21 de dezembro de 2014
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Mudar
Fiquei interessado neste conceito do Change It, pessoas a trocarem experiências para a mudança. Participei em Faro em várias iniciativas próximas, desde os jantares de A Venda Convida (em que desconhecidos se juntam para jantar mediante inscrição prévia) passando pelas tertúlias Poesia & Companhia e terminando também em jantares temáticos À Mesa Com (em que jantar é realizado em casa de um dos participantes, escolhidos ao acaso. Vou ficar a pensar.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
SER poesia
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas—a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.
Alberto Caeiro
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis
REGRESSO AO LAR
Há quanto tempo não escrevo um soneto
Mas não importa: escrevo este agora.
Sonetos são infância e, nesta hora.
A minha infância é só um ponto preto
Que num imóbiI e fútil trajecto
Do comboio que sou me deita fora
E o soneto é como alguém que mora
Há dois dias em tudo que projecto.
Graças a Deus, ainda sei que há
Quatorze linhas a cumprir iguais
Para a gente saber onde é que está...
Mas onde a gente está, ou eu, não sei...
Não quero saber mais de nada mais
E berdamerda para o que saberei.
Álvaro de Campos
XIV
Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.
Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural como o levantar-se o vento...
Alberto Caeiro
ser poema
[ há poemas que se escrevem de uma vez só, com aparente facilidade, necessitando depois apenas de pequenos acertos; e há outros que escrevo e rescrevo com esforço até que finalmente se escrevam. Normalmente duvido bastante dos segundos. o poema seguinte pertence a essa última categoria.]
descubro no mundo à minha volta
tanta infelicidade
que me interrogo se alguma vez
poderei ser feliz
encontro em mim tantas formas
de ser infeliz
que me interrogo se alguma vez
conseguirei ser feliz
e enquanto assim me interrogo
acontece-me intensamente ser
se feliz ou infeliz
isso pouco importa
escrever um poema
qualquer que ele seja
é sempre interrogarmo-nos
sobre o que é a poesia
interrogo-me sobre a felicidade
espero desespero quase enlouqueço
e talvez essa seja a minha forma
de ser feliz aqui e agora
o momento certo é sempre
o momento que escolhemos
o poema que não escrevemos
nunca chegará a ser
descubro no mundo à minha volta
tanta infelicidade
que me interrogo se alguma vez
poderei ser feliz
encontro em mim tantas formas
de ser infeliz
que me interrogo se alguma vez
conseguirei ser feliz
e enquanto assim me interrogo
acontece-me intensamente ser
se feliz ou infeliz
isso pouco importa
escrever um poema
qualquer que ele seja
é sempre interrogarmo-nos
sobre o que é a poesia
interrogo-me sobre a felicidade
espero desespero quase enlouqueço
e talvez essa seja a minha forma
de ser feliz aqui e agora
o momento certo é sempre
o momento que escolhemos
o poema que não escrevemos
nunca chegará a ser
sábado, 6 de dezembro de 2014
Monólogo
querias escrever um poema
que fosse todo ele
silêncio
mas os poemas
são feitos de palavras
e as palavras falam e gritam
mesmo quando repousam
no branco da folha
querias dizer-te em silêncio
mas não consegues calar-te
e se não te calas
como conseguirás
ouvir-te?
os poemas que escreves
serão sempre o silêncio
que não consegues
calar em ti
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
solidão
sento-me à mesa onde ninguém está
e digo o que tenho para dizer como
se falasse para uma multidão atenta
possuo o estranho mas eficaz hábito
de preferir falar a ser escutado
avanço sempre como um navio que
tarda a chegar ao seu destino.
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Cruzeiro Seixas
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