quinta-feira, 25 de novembro de 2010

DA BREVIDADE


El dinosaurio


Cuando despertó, el dinosaurio todavia estaba ali


Augusto Monterrosso


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Depois de muito tentar conseguiu. Conseguiu sabe-se lá o quê.


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Mudou do dia para a noite. Foi uma mudança indesejada. De dia estava vivo e à noite estava morto.


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Esta é uma história que não foi, mas podia ter sido, se alguma vez tivesse chegado a ser. O que não aconteceu!


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PORQUÊ FALAR? Disse isto e calou-se. Mas no silêncio a pergunta repetida continuou a responder-lhe.


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Os seus últimos pensamentos foram para a mulher e para os filhos. Depois disso nunca mais voltou a pensar. Desde então a vida tem-lhe corrido muito melhor.


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Um certo dia um homem deu por si outro, obliterado de quem tinha sido, e sentiu-se imensamente feliz, pois todo o futuro podia agora finalmente ser seu.


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Alva, a luz flutuava lá no alto. E ele, imerso em sombras, subia até ela o seu olhar. [Nada mais.]


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A luz


É muito difícil manter a luz em nós quando tudo escurece à nossa volta, disse o homem, e logo concluiu, mas nunca ela é mais necessária do que nesses momentos.


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Uma certa mulher era sempre quem tinha de ser, e com tal intensa verdade o era, que o ser era em si pura alegria e luz, e perto dela nunca ninguém se aborrecia.


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Brevidade


A Morte encontrou-o vivo. Por pouco tempo.


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Deitou-se para dormir e não acordou mais. E ainda hoje sonha uma morte feliz.


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Escreveu dezenas de contos mínimos, belos como teoremas, e morreu cedo, antes dos trinta. A brevidade foi a sua bandeira.


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Em menos de cinco minutos escreveu uma pequena história bela como um teorema. Empregou nessa acção toda a sua experiência de vida.


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O príncipe acordou-a com um beijo. E isso foi apenas o começo.


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Casaram e foram felizes para sempre, o que só foi possível graças ao divórcio.


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[antologia de histórias mínimas retiradas de Mil e uma pequenas histórias - um diário mínimo]


Cruzeiro Seixas

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