ESPELHO MEU
Olhou para o alto da velha árvore descarnada que se erguia
gigantesca contra um céu cinzento, e viu-se a si mesmo a olhar para baixo na
sua direcção. Ficou perturbado e perplexo, o homem que o olhava de cima era um perfeito
reflexo de si próprio, quer nas suas características físicas quer no seu vestuário.
Até o ridículo chapéu alto que ostentava era o mesmo. E o homem sentado na árvore
parecia também espelhar a mesma perturbação e perplexidade que ele sentia. Será
que estava a pensar o mesmo que ele? Dirigiu-lhe a palavra, quebrando o silêncio,
“Olá, como está?”, e a frase soou ao mesmo tempo na boca do homem sentado no
alto da árvore. E de novo as mesmas emoções se espelharam no
rosto de ambos. Rodeou o enorme tronco, procurando forma de subir a árvore e,
quando a julgou ter encontrado, elevou-se, não sem dificuldade, até ao lugar onde
o outro homem se encontrava. Para sua surpresa não estava ali ninguém.
Sentou-se, olhou para baixo, e viu-se a si mesmo a olhar para cima na sua
direcção, como num labiríntico desenho de Escher.
fotografia de Rodney Smith