quarta-feira, 17 de abril de 2013

Afinal o conto quis continuar a contar-se



ESPELHO MEU (CONTINUAÇÃO)



Nunca exigira do mundo que fizesse sentido, ainda que muitas vezes se esforçasse por encontrar um sentido para aquilo que acontecia à sua volta; era mais um jogo do que uma necessidade; não dava sentido à sua vida, antes o distraía e mantinha-o ocupado. O mundo não tem um sentido, pensava, por isso é que tem tantos quantos quisermos e formos capazes de lhe atribuir. Podemos explicar tudo o que acontece, tantas vezes quantas quisermos, impulsionados e sustentados apenas pela nossa imaginação. Continuava sentado e, por um momento, desviara os olhos do chão e erguera-os para o alto, como era seu hábito quanto pensava, e quando voltou a olhar para o local onde antes estava o outro homem, constatou que ele já não estava ali. Olhou à sua volta, primeiro para mais perto e depois para mais longe, mas ninguém se encontrava à vista. Ficou tão perturbado e perplexo com o desaparecimento do outro como tinha ficado com o seu aparecimento. Desceu da árvore com cuidado, e foi colocar-se no exacto lugar de onde primeiro tinha visto o outro. Olhou para cima, para o alto da velha árvore descarnada, possuído por uma mistura de ansiedade e desilusão. Não estava ninguém em cima da árvore.

(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)

Cruzeiro Seixas

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