ESPELHO MEU (CONTINUAÇÃO)
Nunca exigira do mundo que
fizesse sentido, ainda que muitas vezes se esforçasse por encontrar um sentido
para aquilo que acontecia à sua volta; era mais um jogo do que uma necessidade;
não dava sentido à sua vida, antes o distraía e mantinha-o ocupado. O mundo não
tem um sentido, pensava, por isso é que tem tantos quantos quisermos e formos
capazes de lhe atribuir. Podemos explicar tudo o que acontece, tantas vezes
quantas quisermos, impulsionados e sustentados apenas pela nossa imaginação.
Continuava sentado e, por um momento, desviara os olhos do chão e erguera-os
para o alto, como era seu hábito quanto pensava, e quando voltou a olhar para o
local onde antes estava o outro homem, constatou que ele já não estava ali.
Olhou à sua volta, primeiro para mais perto e depois para mais longe, mas
ninguém se encontrava à vista. Ficou tão perturbado e perplexo com o
desaparecimento do outro como tinha ficado com o seu aparecimento. Desceu da
árvore com cuidado, e foi colocar-se no exacto lugar de onde primeiro tinha
visto o outro. Olhou para cima, para o alto da velha árvore descarnada,
possuído por uma mistura de ansiedade e desilusão. Não estava ninguém em cima
da árvore.
(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)