quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Wilson Gorj

NM – A prática do miniconto pode levar o escritor a se repetir ou a se tornar chato? Muitos "minicontistas" (este vocábulo já foi cunhado?) se tornam meros piadistas. Você não teme se tornar um escritor de piadas?

WG – Tornar-se chato e repetitivo é um risco ao qual estão sujeitos escritores de todos os gêneros. Chatice e repetição não decorrem necessariamente de formatos e tamanhos, mas principalmente da falta de motivação e criatividade. Muitos autores se forçam a escrever sobre qualquer coisa que lhes ocorra durante a escrita; não partem de uma idéia para escrever seus textos; em vez disso, vão encadeando palavras e palavras na expectativa de que a ideia surja em meio ao emaranhado de frases gratuitas; certamente reside aí o perigo da repetição, da chatice. De uns tempos para cá, tenho recorrido à escrita apenas quando me ocorre uma ideia que valha a pena, ou melhor, a tinta, pois meus textos são paridos à caneta (o computador é onde se desenvolvem). Às vezes passo dias sem escrever uma única linha; a mente seca, estéril. E mesmo quando ela entra no cio, depois de fertilizada por algum pensamento, evito precipitar no caderno a ideia concebida. Deixo-a em processo de gestação. Se for fraca, o aborto será espontâneo; se não, a caneta fará sua parte. A maioria das minhas ideias nascem travessas, brincalhonas. De onde concluo que o humor seja meu gene predominante. Daí muitos dos meus minicontos soarem como piada. Alguns, suponho eu, conseguem transcender este caráter meramente anedótico. Nestes casos, o humor é apenas um meio, não o fim. A piada, então, torna-se uma máscara a encobrir algo mais profundo.

Leia toda a entrevista aqui. Vale a pena.


Cruzeiro Seixas

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