sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A MICROFICÇÃO EM PORTUGAL, UM GÉNERO BASTARDO?

IV


A assunção da microficcção como género em Portugal parece, desta forma, ser desde logo dificultada pelos próprios autores que a escrevem, partilhando sem dúvida algum preconceito comum a outros escritores, um pouco como se quem a escreve se sinta, apesar de o fazer, incomodado com o facto. Não quero aqui ponderar as causas de tal atitude mas apenas trazê-la à luz para que seja, espero eu, seja pensada e progresivamente se dissipe.


Recordo que não defendo aqui a microficção como género, mais próximo que estou, como seu praticante e não seu estudioso, de considerar, como Rui Costa, que ela “não é um género literário, é a riqueza da impossibilidade de o ser.” Mas por outro lado acredito que, mesmo que a microficção não seja um novo género literário, existem sem dúvida microficções, orfãs de género literário, mutantes – como diz ainda Rui Costa - que vão acumulando formas, interacções, desequilíbrios.


Esses textos literários breves que confundem os géneros existem, e são provocadores e vanguardistas, pelo que negar a existência da microficção é de certa forma negá-los e renegá-los, o que me parece mau para a microficção e para a literatura em geral. Pelo menos esse é o meu medo.

Mas continuemos.


[CONTINUA...]

Cruzeiro Seixas

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