DA MINHA JANELA VÊ-SE O ALGARVE
Quem te critica teu amigo é!
Existe
uma ideia amplamente difundida em Portugal de que criticar é sempre
falar mal de algo ou de alguém e também que é sempre mais fácil
dizer que se gosta do que dizer que não se gosta. São duas ideias
diferentes mas que em muito convergem.
Consulto
um dicionário comum e ele parece confirmar que criticar é “dizer
mal de”e “pôr defeitos”, mas uma das suas entradas, a última,
diz que também pode ser “exercer a crítica”, e se procurarmos o
significado de crítica ficamos a saber que se refere a uma análise,
feita com maior ou menor profundidade, de qualquer produção
intelectual.
Criticar reconduz-se ainda, no seu sentido mais geral, à actividade de apreciar, avaliar e outras semelhantes. Criticar só
será assim dar uma opinião desfavorável num sentido figurado e
restrito, pois é óbvio que é muito mais do que isso. Não será
também, tão só, falar bem, elogiar, dizer que se gosta, que se
gosta muito, que se gosta bastante, pois assim se cairia no extremo
contrário, na bajulação, que é uma designação possível para
tal atitude e uma palavra de que gosto muito.
É
mais politicamente correto, direi ainda, afirmar que se gosta, ou
mais fácil, arriscarei, do que dizer que não se gosta. É que em
Portugal não gostamos de criticar, desde logo porque não queremos
ser criticados. Mas se criticamos, então o que fazemos em regra é
apenas dizer mal, pôr defeitos, pequeno mas eficaz poder que desta
forma exercemos sobre os outros.
A
prática ainda não extinta de avaliações muito mais por favor do
que por merecimento também não ajuda e por isso muitos fogem como o
diabo da cruz de avaliar e/ou ser avaliados.
Mas
se queremos criticar – e é importante que se critique - e se a
crítica é uma análise, deveremos não só tentar explicar porque
gostamos ou não gostamos, mas também tentar ver o conjunto e
apontar os pontos positivos e os negativos, realçando uns e outros.
Muitos fracassos são muito mais honestos e esforçados do que muitas
vitórias fáceis e previsíveis.
Criticar
exige que pensemos e pensar exige alguma honestidade, quer com os
outros quer com nós próprios, e mesmo assim erramos e mesmo assim
mudamos de opinião.
Quem
nunca se engana e raramente tem dúvidas (ou será ao contrário?)
não é certamente humano. Eu erro muito e tenho sempre dúvidas;se
me criticarem ficarei sem dúvida mais forte, aceitando ou negando
as vossas críticas. Por isso e pela liberdade de opinião, estejam à
vontade, critiquem-me!