IV
Pratica
com tenacidade a indiferença, procura sempre manter-te indiferente,
ainda que assim não te sintas. Edifica a indiferença como quem
escreve um poema, como quem ergue um muro, com muito cuidado, com
redobrado cuidado. Muro que te protege, muro que guardará em
ti, intacta, toda a tua paixão.
V
Quer
tudo queira da vida, quer nada queira da vida, só há uma coisa que
verdadeiramente preciso. Ia escrever “paixão”, ainda escrevi
“paixão”; mas o que eu sinto, o que eu quero mesmo dizer, é que
tudo o que eu preciso é estar vivo.
VI
Inspiras
e expiras, tomas e devolves, é isso que fazes: respiras. Tomas e
devolves à vida; tomas, transformas e devolves à vida. E nesse
processo transformas-te também; inspiras-te e expiras-te: respiras.
É assim a tua vida, é assim que tu és.