Espere, disse-me ela, e foi-se
embora, sem mais, fechando a porta atrás de si. Fiquei à espera, como ela me
tinha pedido ( ou teria sido uma ordem?), todavia sem nada esperar. Não pensei
nem por um momento quanto tempo ela demoraria a voltar ou até se alguma vez
voltaria. Eu estava ali e não me apetecia ir a qualquer outro lado, por isso
ficaria ali enquanto me apetecesse. Por um momento questionei-me se ela me
teria dito para esperar por ela ou apenas para esperar, para aguardar, mas isso
pouca importância tinha. Interroguei-me sobre o que esperava da vida e não me surpreendi
por não ter uma resposta clara. Será que não espero nada a não ser estar vivo?
Será que não espero nada a não ser um dia morrer? Será que viver nada é senão
esperar? Esperar um dia morrer, esperar viver ainda mais um pouco? Mas a verdade
é que nada espero da vida, vivo apenas e nada mais. Espero sem esperar,
concluo, porque quando ela voltou, não tive dúvida alguma de que esperava, ainda
que também não tivesse dúvida alguma de que nada esperava. Espere só mais um
pouco, disse-me ela, e foi-se embora, sem mais.