Um dia, sem que nada o
anunciasse, ele bateu-lhe, um golpe certeiro e singular, e o coração dela quase
parou de bater, tal foi o espanto e a desilusão, porque nada a preparara para
aquilo. Quis rebater, quis gritar-lhe, quis chamá-lo à razão, mas de repente a
verdade acertou-lhe com a mesma força e surpresa do golpe que sofrera. Foram
precisos dois para que isto acontecesse, foram precisos dois, não me posso pôr de
fora, disse e repetiu a si mesma, ao mesmo tempo que ele se desculpava sem
cessar, de lágrimas nos olhos e as mãos fechadas em punhos de raiva e de
desespero. Olhou-o em silêncio, o bater descompassado do coração a pulsar-lhe
nas têmporas e só então percebeu que há muito o seu coração não batia por ele.
Pediu-lhe desculpas, uma e outra vez, de lágrimas nos olhos, as mãos fechadas
em punhos de raiva e de desespero.