escreve
os teus poemas
na água
para os ler
será preciso
ter sede
os teus poemas
na água
para os ler
será preciso
ter sede
Poema em construção
Entre o céu e a terra
escreve o teu poema
linha que se estende
perante o teu espanto
revelando ao teu olhar
a ordem e a desordem
do mundo pressentido
uma e outra vez
no mais íntimo de ti
Entre o céu e a terra
escreve o teu poema
linha que se estende
perante o teu espanto
revelando ao teu olhar
a ordem e a desordem
do mundo pressentido
uma e outra vez
no mais íntimo de ti
Arqueiro zen
Nas tuas mãos
abertas
as pedras em brasa
queimam-te
e tu não sabes
se deves fechá-las
nos teus punhos
ou devolvê-las
a quem te as deu
pouca diferença
faz estares zangado
contigo ou
com os outros
se tu és sempre
o alvo.
Nas tuas mãos
abertas
as pedras em brasa
queimam-te
e tu não sabes
se deves fechá-las
nos teus punhos
ou devolvê-las
a quem te as deu
pouca diferença
faz estares zangado
contigo ou
com os outros
se tu és sempre
o alvo.
Poema único
Queria estar só. Meteu-se ao caminho, solitário, e, quando confirmou que ninguém o seguia, mandou embora a sua sombra. Depois continuou, ainda mais só, à procura de si próprio.
Queria estar só. Meteu-se ao caminho, solitário, e, quando confirmou que ninguém o seguia, mandou embora a sua sombra. Depois continuou, ainda mais só, à procura de si próprio.
Ainda que me fosse
possível
(e a minha mão direita
corresse livre pela folha)
eu nunca escreveria
tudo o que tenho
para dizer.
O poema não é
árvore nem fruto,
o poema é sempre
semente
(e no interstício
branco sobre branco
as suas raízes
estendem-se
ávidas).
possível
(e a minha mão direita
corresse livre pela folha)
eu nunca escreveria
tudo o que tenho
para dizer.
O poema não é
árvore nem fruto,
o poema é sempre
semente
(e no interstício
branco sobre branco
as suas raízes
estendem-se
ávidas).