quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Eugénio de Andrade

Sobre o verde do trevo


De alguns corpos se diz que são transbordantes, quando se deitam é raro não deixarem sinais: pequenas manchas de sol recente ou delicadas sementes de alegria. Da substância vertida sobre o verde do trevo se diz também que é eloquente (eu diria irradiante), não sei se pelo cheiro ao oiro da palha humedecida, se pelo brilho da seda acariciada. O que sei é que fascina as formigas e põe em cólera as éguas que nenhum vento emprenhou.


in Memória de outro rio



Vastos campos


Vou fazer-te uma confidência, talvez já tenha começado a envelhecer e o desejo, esse cão, ladra-me cada vez menos à porta. Nunca precisei de frequentar curandeiros da alma para saber como são vastos os campos do delírio. Agora vou sentar-me no jardim, estou cansado, Setembro foi mês de venenosas claridades, mas esta noite, para minha alegria, a terra vai arder comigo. Até ao fim.

Cruzeiro Seixas

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