Asdrubal Pimenta
Encostou o carro ao gradeamento, puxou o travão de mão e desligou o motor numa rotina inconsciente enquanto o olhar percorria com atenção profissional a fachada algo decrépita, porra, se calhar também eu me amandava da janela fora, o prédio parece estar abandonado, tem um ar meio tétrico com aquele descascado em forma de cruz mesmo por baixo da janela e à noite faço ideia, com a merda de iluminação que há por aqui, isto deve parecer Elm street num dia de nevoeiro,vamos lá despachar isto, deve ser uma simples formalidade, pra mais com o emprego que o gajo tinha era depressão pela certa, despacho isto num instante, ainda tenho tempo de passar no shopping a ver se me arranjam a merda da bateria para o telemóvel senão tou lixado,não me calhava nada, será que ainda mora aqui alguém, empurrou a porta que rangeu renitente, empurrou com mais força abrindo apenas o suficiente para lhe permitir entrar, espreitando com dificuldade a penumbra do hall de entrada, foda-se que merda é esta, as paredes esburacadas pareciam gritar por socorro, o chão juncado de entulho, a escadaria ameaçando ruir, isto não está certo, no relatório não tinha nada que indicasse isto,aqui há marosca porra!, querem ver que o gajo não se suicidou...
Luis Nunes Alberto