Seja no que for, só se recebe na medida do que se dá.
Honoré de Balzac
Se fores o primeiro a dar ficas em vantagem. É sempre melhor dar do que levar.
Anónimo
Ontem disse, no ar, que Faro é um deserto.
Claro que Faro não é um deserto, o que é óbvio, nem eu acho que Faro seja um deserto. Apenas me sinto cada vez mais em Faro como no deserto. Só, cansado, sem saber onde me dirigir. E até existem oásis.
Claro que falo de um ponto de vista metafórico e num contexto que se pode dizer cultural. Era afinal nesse contexto que falei ontem em Faro como um deserto, quando se avaliava em directo, na rádio RUA, a Edição 0 de Radiação.
Ligando essa afirmação à investigação que aqui se fez sobre o estado da literatura em Faro, talvez o mais importante mesmo sejam as pessoas. Ou a falta delas. Ou a falta de vontade em estar aberto e partilhar.
Ouço muito dizer dos algarvios que são fechados e pouco dados a partilhar. Ainda ontem se disse isso mesmo, na emissão referida. Não nasci no Algarve e muitos dos que têm essa atitude não são algarvios, mas começo também eu a sentir-me assim. Quando me diziam que os algarvios comem na gaveta eu explicava que no Algarve se diz que são os de Tavira que comem na gaveta. Agora já não digo nada.
Talvez seja a falta de recursos e o medo de que não sobre para nós que leva a essa atitude, mas cada vez a vejo mais.
Parece-me que cada vez mais se acredita que o bem não compensa, quando acredito que é exactamente o contrário. E não vou explicar o que é o bem!
Se os recursos são poucos há que partilhá-los, há que ser imaginativo. E não o contrário. Há que ser generoso. Solidário. Dar e receber.
Voltando ao ponto de partida. Faro não é um deserto, mas cada vez me sinto mais no deserto. Só, cansado e sem saber onde me dirigir. E até existem oásis.