Optei pela apresentação do que chamei A Construção do Poema para dar ênfase ao processo de construção do poema sobre o seu resultado, neste caso uma criação colectiva.
E confesso que fiquei fascinado pelo processo em si que, para além do seu aspecto colectivo, funcionou (lembrando-me o Oulipo) como um verdadeiro pretexto para o texto.
Já tinha escrito contos a duas e mais mãos (ou teclados) e aí a regra era simples: continuava-se o texto (podendo ou não haver acordo sobre o tema), continuava-se o que estava escrito (podendo haver ou não limitação sobre o quanto se podia escrever: um parágrafo, x linhas...). Quanto a poemas, foi a primeira vez.
A regra fixada, de forma não restritiva, foi que cada um poderia escrever os versos que quisesse, continuando o poema ou intercalando-os nos já existentes. Esta regra, a par do facto de ser uma criação colectiva e cada autor não ter controlo sobre a escrita do outro, surge como uma verdadeira restrição que vai determinar a estrutura do texto.
Quebrei a regra (ou inovei-a) apagando um verso que tinha escrito e o poema desenvolveu-se desde o princípio apesar das restrições ou por causa delas.
Chegados ao poema, quando olhei o produto final e o registo do processo, encontrei mais mistério e força no registo da construção do poema do que no poema final. Talvez se deva ao meu profundo gosto pela narrativa, ao gosto por contar histórias. O texto (o poema) tal como o apresentei conta, além do mais, uma história: a história da sua construção, a história de um encontro.