segunda-feira, 19 de março de 2012

Manoel de Barros

Poesia, s.f.




Raiz de água larga no rosto da noite

Produto de uma pessoa inclinada a antro

Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã

Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de

um homem

Designa também a armação de objectos lúdicos com

emprego de palavras imagens cores sons etc.

geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas

loucas e bêbados





O POETA



Vão dizer que não existo propriamente dito.

Que sou ente de sílabas.

Vão dizer que eu tenho vocação pra ninguém.

Quem acha bonito e pode passar a vida a ouvir o som

das palavras

Ou é ninguém ou é zoró.

Eu teria treze anos.

De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que

se perdia nos longes da Bolívia

E veio uma iluminura em mim.

Foi a primeira iluminura.

Daí botei o meu primeiro verso:

Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.

Mostrei a obra pra minha mãe.

A mãe falou:

Agora você vai ter que assumir as suas

Irresponsabilidades.

Eu assumi: entrei no mundo das imagens.

 
Manoel de Barros

Cruzeiro Seixas

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