segunda-feira, 31 de agosto de 2009

5. A garrafa de vinho tinto



Comprei uma garrafa de vinho tinto e sentei-me no jardim. Tirei-a do saco de plástico, pousei-a no banco a meu lado e fiquei a olhá-la. Tinha-a comprado apenas pelo seu aspecto e só agora que me apetecia bebê-la é que me interroguei como o faria.

“Quer abri-la?”, ouvi como resposta aos meus pensamentos. “Sim”, disse, quero abri-la, e fiquei a olhá-lo enquanto ele a abria e, sem esperar que eu dissesse coisa alguma, fez aparecer dois copos de plástico transparentes que encheu até meio, primeiro um, que me estendeu, e depois outro, que guardou para si.

Olhou o vinho com verdadeira gula, mas não o bebeu de imediato; espreitou-lhe a cor, cheirou-o e sorriu-me com todos os dentes antes de dar um primeiro gole. “Excelente”, disse, “só é pena estar um pouco quente. “Importa-se?”, disse-me ao mesmo tempo que pegava na garrafa de vinho e se afastava com ela em direcção a uma torneira que havia ao fundo do jardim. Abriu a torneira, colocou a garrafa debaixo dela, com cuidado, com a nítida intenção de a refrescar e deixou-se estar ali um pouco, rodando a garrafa de vez em quando. Depois voltou, bebeu de um trago o vinho que lhe restava no copo e deitou mais um pouco que logo levou à boca. “Um pouco melhor, um pouco melhor”, disse, e sorriu de novo aquele seu sorriso intenso. Bebi também de um trago o que me restava e estendi-lhe o copo para que me deitasse mais vinho, o que ele fez.

Nenhum de nós voltou a falar e ficámos por ali a beberricar com satisfação o vinho, até que acabou e ele se despediu com uma vénia e um sorriso.

[ continua...]

Cruzeiro Seixas

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