sábado, 3 de janeiro de 2009

escrever (por necessidade)

Escrevo muitas vezes a partir de frases que li, ouvi ou apenas me ocorreram. Ou talvez seja melhor dizer que sinto muitas vezes a compulsão de escrever a partir de frases (pequenas frases) que li, ouvi ou apenas me ocorreram (sem mais nem menos), e de que não me consigo livrar a não ser escrevendo um texto.

Já tenho escrito para justificar uma frase que me ocorreu [as palavras não dizem o mundo, dizem o nosso desejo de dizer o mundo], a partir de uma frase que li [os homens bons não escrevem bons poemas] e quase desaparece ou mesmo de uma frase que ouvi [não sei dançar, mas tenho entusiasmo] e que desapareceu de um todo.

E isto são apenas exemplos recentes, de que ainda guardo a memória.


Em silêncio

para dizer
que o céu é azul
que os corpos se movem no espaço
que doce é a tua boca
e amargo o teu desprezo

para dizer tudo isto
bastam-me os sentidos

as palavras
não dizem o mundo

dizem o desejo
de dizer o mundo

-->

[há pessoas assim]

há pessoas assim

acreditam no trabalho assalariado e no consumo
desenfreado
exercem a democracia da mesma forma
que jogam na lotaria
desprezam os outros tanto quanto
se amam a si próprias
defendem a guerra mas
apenas a favor da paz
citam amiúde livros
que nunca leram
sabem tudo sobre todas
as coisas

há pessoas assim
muitas pessoas assim

mas nunca uma vez que fosse
uma pessoa assim

e isso deve ter
algum significado

escreveu um bom poema

--->

[Não sei escrever um bom poema]

Não sei escrever um bom poema
acho que nunca saberei como.
cada vez estou mais convencido
que os bons poemas se escrevem sozinhos.
com um pouco de vontade sem dúvida
com muito entusiasmo e sobretudo
com bastante perplexidade.

Cruzeiro Seixas

 Ouvir.