Contactem-no, visitem-no, olhem a sua arte e ouçam-no falar dela. Tal como eu fiz e disso dei eco num conjunto de poemas de que deixo aqui um apontamento.
POÉTICA
1.
Gere o teu silêncio
com parcimónia
Faz frente ao som
da tua inquietude
Diz-te no intervalo
do teu ser profundo
Muito antes das palavras
já o universo
se contradizia
2.
Vai além das aparências
Há sempre luz e sombra
É tão fácil ver quanto
é cegar
Vai além de ti próprio
O caminho só aparece
se escolheres não saber
aonde vais
Em frente ao medo
enfrenta o medo
O poema é sempre
uma clara evidência.
3.
Tem cuidado com as
palavras
As palavras são sempre
frágeis
As palavras são sempre
perigosas
O poema é sempre um
campo minado
COINCIDÊNCIAS
O pintor e o poeta escrevem e
pintam da mesma forma os mesmos conteúdos
eles olham e olham e olham e focam
e desfocam vezes sem conta a mesma
realidade
até que por detrás do presente o
passado se esconde por completo sem ser
visto
é apenas intuído numa perfeita
coincidência de acasos
a que muitos chamam mundo interior
latente pulsante
onde todos os excessos rebentam em
serenos fogos de artifício
e os objectos nada mais são do que pura cor e as palavras nada mais são
do que fátuos e luminosos pensamentos
A MÃO QUE TUDO VÊ
O olhar leva as mãos
à cabeça
num claro gesto
de impotência
A mão que escreve
a mão que pinta
é a mesma mão negra
que desafia
a cegueira da folha
em branco
O que a mão não vê
os olhos não sentem
As mãos fazem sempre a
multiplicação