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domingo, 13 de julho de 2014

3/64


 

O pior cego não é aquele que não quer ver,

esse é apenas estúpido, teimoso, cretino;

o pior é cego é aquele que não sabe

que é cego. Duvida muito, duvida de tudo,

mas duvida sobretudo do óbvio;

é nas pequenas coisas de todos os dias

que a verdade se esconde, a mesma

verdade que procuras sem cessar nas entrelinhas

do poema. E nunca te esqueças, a vida

é feita de poesia, como dizia amiúde

o poeta cego que tanto via.



 

 

 
 

sábado, 12 de julho de 2014

2/64


2

 

Tu não és muito, és quase nada,

pouco mais do que esse estranho sopro

que te anima, alento constante e

determinado, ténue e poderoso,

que faz com que esse quase nada que és

possa ser muito.




quinta-feira, 10 de julho de 2014

1/64 - O guru de algibeira

[Escritos estes poemas, alterei ao acaso a sua numeração e procedi a alguns cortes. Por enquanto, e muito ao meu gosto, são 64 e assim devem continuar. Deixo aqui o número 1 deste novo recomeço. Baralhar e voltar a dar, que assim é a vida.]
 
 
Pergunto-me o que quero,

inquieto,

mas logo a resposta me surge,

tranquila:

nunca perguntes a ti mesmo o que

queres, pergunta sempre quem és.

A melhor pergunta é a que se

responde a si

mesma

quarta-feira, 9 de julho de 2014

(...)

Calo-me para tudo ouvir.
Esvazio-me de palavras, encho-me
de palavras;
escuto-as, escrevo-as,
escuto-me, digo-me.
O poema tem raízes fundas
no silêncio.

 
 

terça-feira, 8 de julho de 2014

27

[Alterada a numeração destes textos usando o acaso, é interessante ver como se reorganizaram. Como continuei a publicar após essa alteração, os números 26 e 27, correspondendo ao números 5 e 8, repetiram-se, o que não é de admirar. De admirar talvez seja que, falando ambos do olhar, agora se sigam um ao outro.]

 
Extraordinária capacidade ou

simples deformação muito aquém

do poema, muito aquém do real,

é no olhar que a poesia primeiro

se revela. Olhar incomum de homens

e mulheres comuns, olhar comum

de homens e mulheres incomuns,

é ele que diz o mundo sem o nomear,

mundo anterior às palavras,

mundo mistério que os olhos vêem,

 mas de todo não

dizem.

 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

26


Está tudo no olhar. No princípio

é sempre o olhar, nada mais

do que o olhar, o ver vem depois,

vem sempre depois, depois do olhar e

antes do fazer, ou não fazer. O

poema pode ser cego mas tem

os teus olhos. O poema pode

ser obscuro mas nunca é invisível.

Está tudo no olhar, não estás a ver?
 
Então olha!

domingo, 6 de julho de 2014

25


Vais fazê-lo, sabes que vais fazê-lo,

então não penses mais no porquê e

no para quê, pensa apenas no

que estás a fazer e fá-lo, que é

isso que tens de fazer. Fazer, por

muito estúpido que te pareça,

é sempre o melhor que podes

fazer,

é sempre o melhor que podes

pensar.

 

sábado, 5 de julho de 2014

24


 

Às vezes penso que devia desistir

de uma parte de mim, como quem prescinde

de um membro doente para sobreviver.

Mas se tudo o que sou faz parte de mim,

de que parte poderei separar-me

e continuar a ser eu? Ou será que

para continuar a ser eu, tenho de

continuamente me tornar outro?

 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

23 - a poesia como autoajuda

[este número 23 segue-se ao 22, mas entre um e o outro houve uma distribuição feita ao acaso para atribuir nova ordem ao conjunto dos textos. Curiosamente este número 23 (antes 42), primeiro publicado depois dessa alteração, fala do acaso e dá-me como que um conselho, uma opinião, sobre o que fiz e sobre que atitude devo tomar. Gosto muito! De notar que estes textos tiveram o subtítulo de "poemas de autoajuda" e que estou a pensar dar-lhes a forma de baralho.]


23


Confia no acaso, tudo acontece

por acaso, mesmo quando não

acontece por acaso. Quando

desconhecemos a razão, tudo

acontece por acaso. Confia

no acaso, confia em ti; mesmo

quando não sabes porquê, tu tens

sempre razão, basta que aprendas

a confiar no acaso, basta que

aprendas a confiar em ti.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

(...)


22

 

Se não queres fazer, não faças. Se

queres fazer, então faz. É simples,

muito simples: faças ou não faças, faz

sempre o que queres. Mas faças o que

fizeres, nunca te esqueças que uma

árvore, qualquer que ela seja, nunca

quer ser árvore, e tu, já alguém

o disse, tu não és nem mais nem menos

do que uma árvore.
 
 

quarta-feira, 2 de julho de 2014

21



Acredita em ti, acredita sempre

em ti, sobretudo quanto mais

duvides de ti. Acredita nessa

tua capacidade de duvidar

de ti, nessa tua maravilhosa

capacidade que te permite ser

vários sem nunca deixares de

ser tu.
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 1 de julho de 2014

20


 

Não sabes o que deves fazer, então

fazes o que tens de fazer; não pensas,

não decides, és tu próprio a decisão,

confias em ti e avanças, surdo que ouve,

cego que vê, sonho que pensa, ideia

que age. E dizes a ti mesmo que podes

ser tudo se não fores coisa alguma

a não ser experiência e intuição.



 

segunda-feira, 30 de junho de 2014

19



A arte é sempre um puro processo

de teimosia, de rigor, de autoconsciência,

quer seja escrever um poema, quer seja

limpar o chão da cozinha. Processo lento

mesmo quando avança rápido,

processo feito de pequenos gestos

mecânicos que a si mesmos se corrigem,

processo maior em que te envolves

cada vez mais até seres tu próprio

o processo.
 
 




domingo, 29 de junho de 2014

18


 

Muito do que te acontece pode

parecer-te imprevisto, mero resultado

do destino ou do acaso, mas a

verdade é que tu estás a caminho.

Podes até não ter escolhido o

caminho, mas escolheste caminhar.

Podes até não saber aonde esta

atitude te levará, mas sabes

que, chegues onde chegares, será

sempre  a ti que chegarás.


 
 

 
 

sábado, 28 de junho de 2014

17


 

Às vezes penso em quem fui e em quem

serei um dia, porém sei que só interessa

quem somos hoje, não quem fomos

ontem, nem quem amanhã seremos,

porque quem somos hoje, inclui quem

fomos ontem e quem amanhã seremos

Mesmo que nos esquecêssemos de

quem fomos e deixássemos de sonhar

quem seremos , ainda assim seríamos,

a cada momento, quem somos hoje,

quem fomos ontem e quem amanhã
 
seremos.






sexta-feira, 27 de junho de 2014

16


A poesia ajuda, é verdade, a

poesia ajuda mesmo quando destrói,

ajuda até tanto mais quanto mais

destrói, o preconceito, a angústia,

o medo, a firme certeza de um

mundo dual, regido por um pensar

lógico que ignora os sonhos

que sonhamos acordados.


 
 
 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

15



O que não gosto nos outros, até

o que nos outros odeio, descubro-o

quase sempre em mim, mais ou menos

activo, muitas vezes apenas latente.

Por isso é que compreendo com facilidade

os outros, por isso é que julgo e censuro

com facilidade os outros, por isso

é que não os desculpo.






 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

14


Queres escutar-te, mas não consegues

deixar de te dizer. Forças-te ao

silêncio, afastas de ti as palavras,

uma a uma, porém elas logo regressam,

e tu acolhe-as em ti com redobrada

alegria. Percebes que dizeres-te

é afinal a tua forma de te escutares.


terça-feira, 24 de junho de 2014

13


 


Acordas a meio da noite e escreves

um poema. Ou o poema acorda-te a

meio da noite para que tu o escrevas?

Tanto faz, de uma forma ou de outra,

o poema está escrito e tu podes
 
voltar a dormir.
 
 
 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

12


 

Para alcançar o equilíbrio bastam

três pontos, explicas-me, e um deles

és tu próprio. Fico a pensar nisso

e também como na vida todo o

equilíbrio é um constante jogo de

desequilíbrios, de instáveis e necessárias

compensações, que tentamos com

diligência harmonizar em nós,

como livros arrumados numa estante.

Todo o equilíbrio é dinâmico,

aprendeste há muito, o que não quer

dizer que não possas alcança-lo, mas

tão só que tens de o procurar uma e

outra vez, com teimosia, labor diário

que só terminará na última página.


 
 
 

Cruzeiro Seixas

 Ouvir.