quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Meia de língua

Tudo se está a preparar para que muito em breve a Rádio Rua apresente uma rubrica diária em que lerei histórias da minha autoria (uma por dia, de uma linha ou duas). Por agora procedi a uma rigorosa selecção, escolhendo entre as mais pequenas as de maior qualidade e representatividade de processos. Ficam aqui cinco, que foi em grupos de cinco que as escolhi (de segunda a sexta).

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A verdade da mentira

Olha-me nos olhos e diz-me a verdade, disse ele, e ela olhou-o nos olhos, bem no fundo dos olhos e mentiu-lhe. No fundo, no fundo, era isso que ele queria, e ela bem o sabia.


O perfeccionista

Matou-se lentamente, muito lentamente, por isso, quando estava quase a chegar ao fim, teve que voltar ao início e matar-se de novo. Era um perfeccionista.


É o fim

É o fim, disse ele, e tudo voltou ao princípio. Mas era apenas o princípio do fim.


Compreender

Era um artista enorme, extraordinário, mas era um homem pequeno, mesquinho, execrável. As pessoas admiravam-se. As pessoas não compreendiam. As pessoas têm esta incompreensível crença que lhes diz que é preciso compreender.

Esquecer

Um homem esforçou-se muito por esquecer a mulher que o abandonara e foi bem conseguido. Quando ela voltou não a reconheceu e apaixonou-se outra vez.

Cruzeiro Seixas

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