[para ti, tu sabes quem.]
No final, dizes a ti mesmo num momento de lucidez, num
dos teus raros mas intensos momentos de lucidez, no final
é apenas uma questão de equilíbrio. Pouco importa quanta
dor a vida te inflija ou quanta sejas capaz de suportar. Não
importa quanta alegria extraias da vida ou quanta consigas
sorver. No final, dizes, é apenas uma questão de equilíbrio.
Só me ocorre dizer, desculpa-me a metáfora hesitante, que
a dor e a alegria são duas sombras, projectadas pela vida e
por nós, e o que importa, o que nos resta, é equilibrá-las, é
acertá-las, de forma a que uma e outra se confundam e, no
final, pareçam (e sejam talvez) apenas uma. Tal como nós.
Nada é simples quando se trata de palavras.
Quando se trata de palavras até a palavra simples é complicada.
um blog de Luís Ene
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Esfinge
Não sei a sua idade, mas é evidente que já não é uma criança e,
quando atravesso a praça, quase perco o fôlego na surpresa
das vertiginosas meias-luas que insiste em traçar sem descanso,
voando alto no baloiço esquecido do parque infantil, ao mesmo
tempo que, o telemóvel na mão direita, o equilíbrio ameaçado,
escreve sem parar mensagens que chegam talvez mais rápidas
ao seu destino, e interrogo-me qual será o seu mistério, mas,
à cautela, evito aproximar-me, evito até que me veja, não se vire
para mim de repente e me diga, numa voz cava de enigma antigo:
“Decifra-me ou devoro-te.”
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
persistência
Olhas e olhas mas nada vês.
É uma questão de sentido, dizes
a ti mesmo, não uma questão de fé.
E olhas e olhas, uma e outra vez.
Olhas e olhas e nada vês.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
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