sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Rua do Imaginário de hoje com (leitura de) textos de Daniil Harms e Rui Manuel Amaral e música de Gerry Mulligan.

CADERNO AZUL Nº 10
por Daniil Harms

Era uma vez um homem ruivo, sem olhos nem orelhas. Também não tinha cabelos, e só por convenção lhe chamávamos ruivo.
Não podia falar porque não tinha boca. E nariz também não.
Nem sequer tinha braços e pernas. Também não tinha barriga, nem coluna vertebral, nem mesmo entranhas. Não tinha coisa nenhuma! Por isso pergunto de quem estamos nós a falar.
Desta forma é preferível nada acrescentarmos a seu respeito.


HISTÓRIA DO DITO CUJO
por Rui Manuel Amaral

Se eu quisesse, podia contar muitas histórias sobre o dito cujo. Mas basta esta, a primeira que me vem à cabeça. Um belo dia, após uma bela noite de sono, o dito cujo abriu os olhos, levantou-se da cama, dirigiu-se ainda meio ensonado ao quarto de banho, olhou para o espelho e, oh!, fez uma careta terrível! Caramba, a terrível careta que ele fez! E depois disse: “Xanto Deux, o gue agontexeu à minha gara? Parexo o Gregor Xamxa.” O que significa: “Santo Deus, o que aconteceu à minha cara? Pareço o Gregor Samsa”, mas ele pronunciava mal as palavras, por causa daquilo que acontecera à sua cara durante a noite. E é tudo.

Cruzeiro Seixas

 Ouvir.